Neste 22 de abril, Dia Mundial da Terra, o planeta nos convida à reflexão. Mais do que uma data simbólica, o momento escancara a urgência de ações efetivas diante da crise climática, da perda de biodiversidade e da degradação ambiental. Para entender melhor os desafios e caminhos possíveis, o Sensus Notícias entrevistou o professor Maurício Lamano Ferreira, referência em Geociências e ecologia, com vasta atuação em pesquisa, políticas públicas e educação ambiental.

Lamano é pós-doutor pelo Departamento de Geociências da Universidade do Porto (Portugal) e pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP (CENA/USP), além de doutor em Ciências Ambientais, mestre em Biodiversidade Vegetal e graduado em Geociências e Ciências Biológicas. Hoje, leciona no Departamento de Ciências Básicas e Ambientais da USP e conduz estudos sobre mudanças climáticas, poluição atmosférica e restauração ecológica.

Educação ambiental além da sala de aula

Segundo o pesquisador, a educação ambiental precisa ser transversal e contínua: "Ela não compete apenas à disciplina de ciências na infância, mas deveria permear todas as áreas do conhecimento – matemática, geografia, economia –, e também todas as fases da vida, inclusive o ensino superior e as decisões de políticas públicas", afirma.

Ele critica a desigualdade de acesso: "Algumas escolas particulares até conseguem aplicar esse conhecimento de maneira eficaz. Mas a grande massa da população está na rede pública, e esse debate já deveria estar mais consolidado desde os anos 1990".

Geociências para compreender e agir

Para Lamano, as Geociências têm papel essencial na leitura dos fenômenos ambientais: “Estudamos como os compartimentos do planeta – litosfera, atmosfera, biosfera – interagem. Entendemos as mudanças climáticas sob a ótica do tempo geológico, como elas afetaram a biodiversidade no passado e o que nos espera no futuro”.

Essa visão sistêmica, segundo ele, é vital para propor soluções sustentáveis e estratégias de adaptação às novas realidades climáticas.

Da pesquisa à transformação urbana

Atento aos desafios das cidades, o professor busca aplicar a ciência nas necessidades concretas da população. “Minha atuação tem sido identificar lacunas na gestão pública e usar a pesquisa como ponte. A arborização urbana, os extremos climáticos, a qualidade do ar – tudo isso precisa de dados e soluções baseadas em evidência. Ciência e políticas públicas devem dar as mãos”.

Ele também coordena projetos financiados pela FAPESP, publicou artigos em periódicos de alto impacto, livros técnicos e de divulgação científica, além de estar à frente de uma coletânea apoiada por ONU-FAO, PNUMA, ICLEI e importantes sociedades científicas brasileiras.

O futuro é agora

Lamano acredita que a juventude deve assumir o protagonismo ambiental, mas alerta: "A ideia de que os jovens são o futuro precisa ser revista. A transformação começa hoje. O jovem é o presente. É preciso buscar eficiência energética, respeitar a natureza e agir com responsabilidade ambiental agora".

Para ele, harmonizar os ritmos urbanos com os ciclos naturais é o maior desafio da nossa geração. E a ciência, junto da educação, deve guiar esse caminho: "Tomar atitudes coerentes com os padrões naturais é a melhor solução para salvar o planeta".

A importância da ciência, da educação e da mobilização social nunca foi tão urgente quanto neste Dia da Terra. E como aponta o professor Lamano, a mudança não virá do amanhã, mas do que decidirmos fazer hoje.

Assista agora a entrevista: 

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