Correios enfrentam crises e adotam medidas emergenciais para evitar insolvência
Os Correios registraram um prejuízo de R$ 1,81 bilhão entre janeiro e agosto de 2024
Após acumular prejuízos consecutivos por três anos, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) anunciou a implementação de medidas urgentes para conter uma crise financeira que ameaça sua solvência. A informação consta em um documento interno, anteriormente sigiloso.
Datado de 11 de outubro de 2024, o documento é assinado por Luciano Cardoso Marcolino, chefe do Departamento de Orçamento e Custódia; Hudson Alves da Silva, superintendente Executivo de Finanças, Controladoria e Parcerias; e Maria do Carmo Lara Perpétuo, diretora Econômica
Crise financeira e teto de gastos
Segundo o documento, os Correios registraram um prejuízo de R$ 1,81 bilhão entre janeiro e agosto de 2024, com previsão de encerrar o ano com uma redução de 83% no saldo de caixa em relação ao início do ano. Para conter o agravamento da crise, foi previsto um teto de gastos de R$ 21,9 bilhões para o exercício de 2024.
As medidas incluem:
- Suspensão temporária de contratações por pelo menos 120 dias;
- Redução de pelo menos 10% nos contratos vigentes em 2024 e 2025;
- Prorrogação de contratos apenas com recursos provenientes das economias obtidas.
Essas ações visam recompor as reservas financeiras do estado e evitar sua insolvência, conforme destaca o ofício.
Impactos históricos e gestão atuais
Sob a presidência de Fabiano Silva dos Santos, indicada ao carregamento no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os Correios enfrentaram o maior prejuízo de sua história no período de janeiro a setembro de 2024, acumulando R$ 2 bilhões. A projeção indica que o déficit pode ultrapassar os R$ 2,1 bilhões registrados em 2015, durante o governo Dilma Rousseff.
Fabiano, conhecido como “churrasqueiro de Lula” devido à proximidade com o presidente, enfrenta pressão para implementação de soluções estruturais. No entanto, as decisões tomadas até agora foram alvo de críticas pelo seu impacto no orçamento.
Causas apontadas pela estatal
Em nota oficial, os Correios atribuíram à crise diversos fatores:
- Déficit herdado de quase R$ 1 bilhão deixado pelo governo anterior;
- Tributação de compras internacionais, com impacto negativo de R$ 1 bilhão em 2024;
- Redução de receita de R$ 500 milhões em 2023 devido à regulação de compras internacionais;
- Defasagem acumulada de 74,12% sem reajuste tarifário na década passada, resultando em perda de R$ 2,5 bilhões;
- Custo da universalização do serviço, que gera um déficit residual de R$ 3,7 bilhões ao ano, mesmo considerando a imunidade tributária de R$ 1,8 bilhão.
Além disso, o estatal citou a queda no volume de mensagens físicas, diminuindo a receita desses segmentos de 54% para 21% em dez anos.
Medidas administrativas e futuras
A estatal informou que, apesar das dificuldades, não há previsão de demissões além das previstas no Programa de Desligamento Voluntário (PDV). As contratações de contratos aprovados no concurso público estão mantidas.
Sobre o sigilo do documento, os Correios justificaram que a prática segue padrões de grandes empresas para proteger estratégias financeiras e de negócios.
A situação dos Correios é um reflexo da complexa relação entre gestão estatal, custos operacionais e adaptação ao mercado em um cenário de desafios econômicos crescentes.
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