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São Paulo,21/11/2024

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O contexto por trás da “tomada” da direita americana por Donald Trump

A vitória de Donald Trump na eleição da semana passada reforçou a impressão de que ele e seus seguidores “tomaram” o Partido Republicano.

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O contexto por trás da “tomada” da direita americana por Donald Trump

A vitória de Donald Trump na eleição da semana passada reforçou a impressão de que ele e seus seguidores “tomaram” o Partido Republicano. A campanha viu republicanos como Liz e Dick Cheney mudarem de lado e apoiarem a candidata democrata, Kamala Harris. Agora – depois que Trump ganhou um segundo mandato – a direita está presa em uma luta fervorosa para pressionar o presidente eleito a nomear alguns republicanos para cargos executivos importantes e deixar os outros totalmente fora do governo.


Embora isto muitas vezes seja retratado na mídia como uma batalha entre conservadores de princípios, de um lado, e um movimento raivoso e não ideológico focado apenas na lealdade pessoal a Trump, do outro, a atual guerra civil dentro da direita americana é apenas o capítulo mais recente de uma história muito mais antiga.


Para realmente entender o que está acontecendo hoje, temos que voltar no tempo.


Origens da esquerda e da direita americanas contemporâneas


Os partidos políticos de 1800 seriam em sua maioria irreconhecíveis para a maioria das pessoas que vivem hoje. Não apenas os partidos iam e vinham, – como os partidos Federalista e Whig – mas a composição ideológica dos primeiros partidos políticos também mudaria drasticamente. Por exemplo, após a Guerra Civil, os democratas eram o partido do livre comércio, moeda sólida, liberdade pessoal e governo mínimo. Isso mudou na década de 1890, quando as forças inflacionistas do grande governo assumiram o controle, criando um Partido Democrata muito mais próximo do que temos hoje.


A oposição aos democratas permaneceu relativamente fraturada, no entanto, com um grupo cada vez menor de autores como Oswald Garrison Villard e Albert Jay Nock carregando a tradição individualista laissez-faire da Revolução Americana e de abolicionistas radicais no século XX. Esses pensadores se juntaram a socialistas e anti-imperialistas de esquerda para se opor ao envolvimento americano na Primeira Guerra Mundial – vendo-o como uma expansão inaceitável do governo que estabeleceu um precedente perigoso para violações federais da liberdade do povo americano.


Então, à medida que o país saía da guerra e entrava na Grande Depressão, os esquerdistas e socialistas abandonaram sua oposição ao establishment de Washington e se reuniram em torno de Franklin Delano Roosevelt enquanto ele trabalhava para implementar o New Deal. Ao mesmo tempo, Herbert Hoover – que havia, na verdade, iniciado os programas governamentais que FDR construiu com o New Deal – deixou o cargo, renomeou-se como um oponente do grande governo e aliou-se aos individualistas laissez-faire para se opor a FDR. E com isso, nasceu o que conhecemos hoje como esquerda e direita americanas.


A direita original


A direita original pode ser melhor entendida como o oposto de FDR e dos democratas do New Deal. Ela se opôs ao nível de rápida expansão da intervenção do governo na economia e ao internacionalismo agressivo do establishment de Washington. Alguns integrantes dessa direita original estavam focados em impedir a implementação do New Deal, enquanto outros também queriam reverter o tamanho do governo muito além de onde estava no início do mandato de FDR. Mas juntos – à medida que mais e mais programas destrutivos do New Deal de FDR se concretizavam – a direita estava unificada em sua rejeição ao novo status quo intervencionista. Isso significa que os direitistas americanos originais não eram fundamentalmente conservadores.


A Segunda Guerra Mundial colocou a política de pernas pro ar, como aconteceu com todas as outras facetas da vida americana. Grande parte do establishment americano embarcou no esforço de guerra de FDR. Aqueles da direita que, em vez disso, argumentaram que se envolver na guerra teria consequências ruins duradouras para o povo americano foram vilanizados e desplataformados – o que foi brutalmente eficaz no ambiente de mídia limitado da época. Em sua história sobre o tópico, Murray Rothbard chamou a guerra de nadir, ou ponto baixo, da direita original.


Depois da guerra, as coisas melhoraram por um tempo. Opor-se ao intervencionismo estrangeiro na esfera pública tornou-se novamente possível, mas isso começou a mudar à medida que a Guerra Fria com a União Soviética se intensificava. Mas, desta vez, a pressão para se alinhar com a política externa agressiva de Washington veio de outros direitistas. Alguns certamente ficaram tentados a dar aos esquerdistas um gostinho de seu próprio remédio depois de suportar anos sendo caluniados como fascistas e apologistas de Hitler por ousarem questionar a sabedoria de se ir à guerra.


Mas, ao mesmo tempo, a composição ideológica da direita estava à beira de outra mudança.


Os recém-chegados


Ao mesmo tempo em que a direita original lutava contra o New Deal de FDR e a entrada na Segunda Guerra Mundial, um pequeno grupo de comunistas passava por uma transição intelectual própria. Este grupo era composto por seguidores fervorosos, aliados políticos e, em alguns casos, até amigos pessoais íntimos do revolucionário comunista russo Leon Trotsky.


Em uma disputa ideológica e uma luta política, Trotsky rompeu com o primeiro-ministro soviético Joseph Stalin – levando ao seu banimento da Rússia no final dos anos 1920. Durante a década de 1930, Trotsky no exílio e seus seguidores em todo o mundo argumentaram contra a teoria de Stalin do “socialismo em um só país”. Os trotskistas defendiam o chamado “internacionalismo proletário”, agindo para colocar os países sob o comunismo até que sobrasse uma única potência global.


Mas durante o exílio de Trotsky – e especialmente após sua morte pelas mãos de um agente soviético em 1940 – o movimento trotskista começou a se fragmentar. A partir dessa fratura, alguns trotskistas como James Burnham, Max Shachtman e outros começaram a se desviar para a direita. Esses pensadores passaram a aceitar alguns aspectos dos países capitalistas nominalmente liberais do Ocidente. Mas, o mais importante, eles mantiveram sua crença na viabilidade do planejamento central e seu ódio à União Soviética stalinista.


À medida que esses ex-trotskistas se incorporaram à direita americana, eles começaram a mover o pêndulo para longe da oposição original ao New Deal e ao intervencionismo estrangeiro. O grupo – que hoje é conhecido como neoconservadores – viu os programas intervencionistas construídos por Hoover e FDR como instituições que valiam a pena conservar e a URSS como uma ameaça estrangeira que exigia uma expansão significativa do aparato bélico de Washington em oposição.


Os neoconservadores e outros direitistas que se alinharam com seus objetivos e prioridades formaram uma coalizão que fez a transição bem-sucedida da direita americana para um movimento “conservador” que – embora um pouco cético em relação a algumas futuras intervenções do governo – era a favor de manter as muitas que já haviam sido implementadas no lugar.


Esse movimento conservador de governo pequeno na retórica, mas de governo grande na prática, passou a dominar a direita americana nas décadas após a Segunda Guerra Mundial, graças em grande parte ao autor conservador William F. Buckley Jr. e sua revista National Review.


A National Review


Os conservadores da National Review enquadraram a oposição à União Soviética como a questão mais importante que o país enfrentava e qualquer um que discordasse de sua política externa agressiva e anti-soviética ou da aceitação conservadora do status quo como um maníaco desequilibrado ou um aliado da URSS. Buckley conduziu uma campanha extremamente bem-sucedida para desestabilizar as várias facções da direita que não estavam de acordo com seu programa.


À medida que os membros da direita original perderam o acesso às colunas de jornais e cargos nas revistas, eles desapareceram completamente do discurso público. A coalizão neoconservadora-buckleyista dominou a direita americana durante os anos sessenta, setenta e oitenta.


Então, em 1991, a URSS entrou em colapso – exatamente como muitos dos oponentes originais de direita do planejamento central previram. De repente, o principal vilão, justificando o enorme complexo militar-industrial que havia sido construído em Washington, se foi. A direita novamente mergulhou em uma crise de identidade.


O retorno


Alguns conservadores, como Pat Buchanan, viram a dissolução da União Soviética como a sonhada oportunidade de um retorno a um país não militarista e focado internamente. Mesmo quando o establishment de Washington rapidamente se voltou para seu próximo vilão em Saddam Hussain, Pat Buchanan e seus seguidores se juntaram aos herdeiros intelectuais da direita original e deram início a um ressurgimento de ideias mais antigas e não conservadoras à direita americana.


Mas o progresso feito nos anos noventa foi significativamente prejudicado pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Se aproveitando do nível histórico de união nacional que apropriadamente varreu o país após os ataques, o governo neoconservador George W. Bush lançou a guerra global contra o terror. As raízes trotskistas do neoconservadorismo podem ser vistas na insistência do movimento em colocar o mundo inteiro sob seu domínio e sua certeza de que novos países do Oriente Médio poderiam ser construídos e planejados centralmente de cima para baixo.


Mas mais tarde, na presidência de George W. Bush, os resultados desastrosos da guerra ao terror e a impossibilidade do projeto global neoconservador estavam se tornando difíceis de ignorar. Isso levou, novamente, a um renascimento do pensamento original de direita – visto mais claramente nos primeiros dias dos protestos do Tea Party e da popular campanha presidencial de Ron Paul.


Depois que Barack Obama levou os sentimentos anti-guerra do público para a Casa Branca, apenas para traí-los e governar como um incitador de guerra enquanto implementava muitas intervenções econômicas destrutivas dentro dos EUA, grande parte da base republicana estava pronta para deixar o neoconservadorismo.


Esse é o sentimento que Trump – um marqueteiro, não um ideólogo – incorporou quando concorreu à presidência em 2016. Sua vitória sobre Jeb Bush e depois Hillary Clinton não foi apenas um sinal de que as ideias da direita original poderiam mais uma vez triunfar sobre o conservadorismo, mas que eram populares o suficiente para ganhar a Casa Branca.


Mas isso de forma alguma significa que a era do neoconservadorismo ficou no passado. Em seu primeiro mandato, Trump nomeou muitos neoconservadores, buckleyistas e republicanos do governo para cargos importantes em todo o Poder Executivo. Eles impediram que Trump realizasse muitas das políticas anti-establishment que os eleitores o enviaram à Casa Branca para implementar.


A luta entre facções que estamos vendo hoje, quando Trump faz suas primeiras nomeações para seu segundo mandato, não é uma briga superficial e vingativa baseada apenas em desprezos pessoais dos últimos anos. É um momento crucial na longa e complicada história da direita americana. Uma batalha entre os populistas de direita originais que entendem o dano que as nomeações de Trump causaram à sua agenda da última vez e o establishment, conservadores do grande governo que novamente querem cooptar silenciosamente a presidência de Trump e transformá-la de volta no mesmo velho tipo de governo republicano que vimos por décadas.


 


 


 


 


Artigo original aqui


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