O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem expressado insatisfação com o modelo de "corporation" (corporação) adotado por ex-estatais em que o governo ainda detém participação acionária, como a Eletrobras, e em outras nas quais não é mais acionista, mas busca exercer influência, como no caso da Vale.

A insatisfação de Lula com a mineradora veio à tona após a nomeação de Gustavo Pimenta como novo presidente, feita pelo conselho de administração. Lula criticou a estrutura da empresa, comparando-a a "um cachorro com muitos donos".

“A Vale antes tinha uma diretoria, eu sabia quem era o presidente. Hoje não tem dono, é uma tal de corporation com gente que tem 2%, 3%, como cachorro de muito dono, que morre de fome e de sede, porque todo mundo acha que já colocou água e comida, e ninguém coloca”, disse o presidente.

A frustração de Lula se deve à sua tentativa fracassada de influenciar a direção da empresa, após insistir em emplacar o ex-ministro Guido Mantega como presidente. Durante o processo de sucessão, Lula pressionou o conselho de administração por meio de aliados e utilizou as redes sociais para acusar a empresa de negligência no processo de indenização das vítimas de desastres.

No entanto, o modelo de "corporation" impediu a interferência do presidente. Seguindo as regras de governança corporativa, o conselho elegeu um presidente interno, frustrando as tentativas de Lula.

“O modelo de 'corporation' baseia-se nos mais altos níveis de governança corporativa, voltada para beneficiar todos os 'stakeholders' [partes interessadas] do negócio”, explica Geraldo Affonso Ferreira, executivo e experiente conselheiro de administração. “No caso de ex-estatais ou empresas com participação governamental, esse modelo protege a empresa de interesses políticos momentâneos.”