Seja bem-vindo
São Paulo,28/04/2025

  • A +
  • A -

Carlos Valentim

Trancados no Quarto, Perdidos no Mundo.

A Geração do Quarto não é uma geração perdida. É uma geração em busca — de sentido, de acolhimento, de um motivo real para sair do quarto e enfrentar o mundo.

Freepik
Trancados no Quarto, Perdidos no Mundo. "Geração do Quarto "


Há algo de silenciosamentedoloroso em ver a juventude se esconder atrás de portas fechadas. A chamadaGeração do Quarto não é feita de rebeldes, nem de preguiçosos — é feita dejovens assustados. Assustados com a velocidade do mundo, com a pressão porsucesso, com a obrigação de parecer feliz o tempo todo.

Dentro de seus quartos, elesencontram o que o mundo real já não oferece: controle. No videogame, eles podemvencer. No celular, podem ser populares. Na série que assistem, podem viveremoções que a vida aqui fora parece negar. E nós, adultos, muitas vezes cegospelo próprio cansaço ou pelas próprias frustrações, demoramos a perceber que,enquanto eles se fecham, nós também nos afastamos.

Pais se preocupam — e com razão.Mas não basta bater na porta ou espiar pela fechadura. É preciso mais: épreciso reconstruir a confiança, reaprender a ouvir sem julgar, reaprender aestar junto sem invadir. Talvez o maior erro tenha sido acreditar que bastavadar liberdade sem preparar o terreno da coragem e da empatia.

A Geração do Quarto não é umageração perdida. É uma geração em busca — de sentido, de acolhimento, de ummotivo real para sair do quarto e enfrentar o mundo. E talvez o nosso maiordesafio, como adultos, seja lembrar a eles — e a nós mesmos — que viver, apesardos riscos, ainda vale a pena.

A PortaFechada

De uns tempos pra cá, reparei queas portas das casas ficaram mais silenciosas. Não ouço mais a correria dospassos no corredor, as vozes na sala, as discussões bobas sobre quem vai lavara louça. O som que predomina agora é o clique sutil da maçaneta se fechando — edo outro lado, um quarto que vira mundo.

Meu filho, minha filha, oadolescente da casa, não sumiu. Está ali, no mesmo teto, respirando o mesmo ar.Mas está longe. Atrás da porta, a vida acontece em tela cheia: amigos que nuncase encontram vitórias em jogos que não se tocam amores confessados pormensagens que se apagam.

Às vezes me pergunto onde foi quea gente se perdeu. Quando foi que o "boa noite" virou um aceno rápidode cabeça, que o "vamos conversar" virou um "deixa pradepois". Talvez tenha sido quando acreditamos que bastava dar liberdadesem dar companhia. Ou quando o medo do mundo se tornou tão grande que o quartovirou fortaleza.

Eu bato à porta de vez em quando,com receio de ser invasivo, com medo de ser tarde demais. Ofereço um café, umacaminhada, uma conversa sem tema. Nem sempre dá certo. Às vezes recebo um"já vou" que nunca vem. Noutras, uma frestinha se abre — e nessepequeno gesto, encontro uma esperança enorme.

A geração do quarto não precisade puxões de orelha. Precisa de mãos estendidas, de olhos que acolhem semcobrança, de convites sem pressa. E nós, do lado de fora, precisamos reaprendera esperar. Às vezes, abrir a porta leva tempo. Mas amor e paciência, euacredito, ainda são as chaves certas.

Enquanto isso sigo por aqui, coma xícara de café esfriando na mão e o coração batendo na esperança de um diaouvir, do outro lado da porta, um simples: "Posso entrar?”.

Por: Carlos R. Valentin



COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.