Carlos Valentim

Quando a verdade se esconde
Num tempo em que a mentira se espalha com velocidade, quem escolhe contar a verdade se torna resistência.

Quando averdade se esconde
Há muitotempo a corrupção deixou de ser uma exceção entre nós. Ela se enraizou como umavelha árvore torta, cujos galhos se estendem pelas praças, pelas ruas, peloscorredores dos palácios que governam nossas vidas. E nós, de olhos cansados,aprendemos a conviver com sua sombra.
Nessecenário de descrença, o jornalismo deveria ser a lâmpada acesa no meio daescuridão. Mas ser luz exige mais do que a simples vontade de iluminar. Exigecoragem para entrar nas frestas onde a sujeira se acumula, para enfrentar opoder que prefere manter as portas trancadas e as cortinas fechadas.
Informarcom transparência não é tarefa fácil. É como nadar contra a correnteza todos osdias, sabendo que muitos preferem acreditar no conforto das mentiras bemcontadas. Afinal, é difícil encarar a verdade: cada ato de corrupção carrega,silenciosamente, a dor de quem ficou sem atendimento no hospital, de quem viu aescola desabar, de quem perdeu o futuro.
A missãodo jornalismo, hoje, não é apenas revelar documentos secretos ou desmascararfiguras públicas. É fazer a sociedade sentir, mais uma vez, a indignação queadormece. É sacudir consciências, despertar perguntas, provocar incômodos.Porque enquanto a informação for tratada como produto de consumo rápido —descartável, esquecida na próxima rolagem de tela —, a corrupção continuarávencendo pela indiferença.
Num tempoem que a mentira se espalha com velocidade, quem escolhe contar a verdade setorna resistência. Cada reportagem séria, cada denúncia fundamentada, cadainvestigação honesta é um pequeno ato de coragem contra o cinismo instalado.
Mastambém é preciso dizer: o jornalismo não pode lutar sozinho. Uma sociedade quefecha os olhos à corrupção, que naturaliza o absurdo, que se acostuma aodescaso, é cúmplice da própria ruína. Precisamos aprender a ouvir com atenção,a questionar com profundidade, a agir com responsabilidade.
Averdadeira transparência começa quando o jornalismo se recusa a ser cúmplice dosilêncio — e quando cada cidadão entende que a corrupção não é um problemadistante, mas uma ferida aberta na nossa história.
Que aimprensa tenha a força de seguir acendendo luzes. E que nós, enquantosociedade, tenhamos a coragem de olhar para o que a luz revela — e de nãoaceitar mais viver na escuridão.
Porque nofim, não é apenas sobre governantes corruptos ou sistemas falhos — é sobre nós.Sobre o que escolhemos ver, o que escolhemos calar e o que estamos dispostos amudar. Um país que não exige a verdade é um país que consente com a própria mentira.E o jornalismo, ainda que sozinho, continuará gritando no escuro até que todosdecidam, finalmente, abrir os olhos.
Por:Carlos R. Valentin
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