Carlos Valentim

Populismo sanitário ou descaso travestido de inclusão?
Plano de Saúde de R$ 100: Populismo sanitário ou descaso travestido de inclusão?

Plano deSaúde de R$ 100: Populismo sanitário ou descaso travestido de inclusão?
Propostado governo Lula promete acesso à saúde com mensalidade popular, masespecialistas alertam: é limitado, excludente e pode agravar a dependência doSUS.
Apresentadocomo uma solução inovadora para a saúde pública, o plano de saúde de até R$ 100proposto pelo governo Lula pode estar longe de ser o avanço que promete. Comcobertura restrita e sem previsão para atendimentos de urgência ou internações,o plano levanta mais perguntas do que respostas — especialmente quando surge àsvésperas de um novo ciclo eleitoral.
Com focoem consultas e exames básicos, a medida não cobre o essencial: internaçõeshospitalares, cirurgias ou atendimentos de emergência. Para situações maisgraves, o usuário continuará a depender do Sistema Único de Saúde (SUS), que jáenfrenta sobrecarga e subfinanciamento crônicos.
"Estamosdiante de uma maquiagem de acesso à saúde. O plano cria a ilusão de segurança,mas na prática, deixa o cidadão desassistido nos momentos mais críticos",afirma o médico sanitarista Luiz Roberto Antunes.
"É um pacote básico vendido, se não forbem delineada, corre o risco de criar uma zona cinzenta entre o público e oprivado", afirma a professora de Saúde Coletiva da UFRJ, Mariana Silva."Ela formaliza uma assistência fragmentada, sem continuidade de cuidado, oque contradiz os princípios da integralidade e da equidade do SUS."
Além daquestão assistencial, o modelo também levanta dúvidas sobre sustentabilidade. Acobertura de procedimentos definidos pelo rol da ANS, mesmo que apenasambulatoriais, por R$ 100 mensais, impõe um desafio de equilíbrio econômico. Aproposta ainda não apresentou projeções atuariais públicas nem detalhamentosobre a participação de subsídios governamentais.
Outroponto técnico sensível é a fiscalização. A regulação de planos de baixo custoexigiria aumento da capacidade da ANS, órgão que já enfrenta limitaçõesoperacionais. Sem monitoramento rigoroso, há risco de que o modelo funcione deforma precária, repetindo práticas comuns em clínicas populares e cartões dedesconto, mas agora com chancela estatal.
Mais doque uma tentativa de ampliar a inclusão no sistema de saúde suplementar, oplano parece ser parte de uma estratégia política cuidadosamente calculada. Comapelo direto à base eleitoral das classes C e D — que sofrem com o sucateamentodo SUS — o governo aposta no impacto imediato da proposta, mesmo que osresultados a longo prazo sejam questionáveis.
Aindicação do ex-deputado Wadih Damous à direção da ANS, diretamente ligada aopresidente Lula, reforça a percepção de que a proposta tem um viés eleitoralclaro. Parlamentares da oposição já classificam a ideia como “populismosanitário” e alertam para o risco de desviar o foco de investimentosestruturais no SUS.
Com apromessa de saúde por um valor simbólico, o governo flerta com o discursofácil, mas entrega uma proposta frágil e superficial. O plano de R$ 100 poderender manchetes positivas e simpatia popular — ao menos até que osbeneficiários descubram, na prática, o que ele realmente não cobre. O risco étransformar uma demanda legítima por saúde de qualidade em moeda eleitoral, àcusta da segurança de milhões.
Por:Carlos R.Valentin
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