Sydnei Migli

DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA
Feliz Páscua e o que ela significa para o Cristianismo.

Houve um tempo em que eu pensava que os que assistiam, como eu, “Dois perdidos numa noite suja” de Plinio Marcos, poderiam sair do teatro e refletir sobre o mundo que nos rodeava.
E mesmo que muitos, a maioria pra ser sincero, pouco ou nada, poderíamos fazer para mudar a realidade. Sempre quis pensar que alguns dentre nós, com mais sorte ou mais inteligência que eu, poderiam melhorar o mundo.
Estava enganado!
Mas que digo eu?
Um velho esquecido em um canto do mundo.
Se o mundo está às mil maravilhas!
Afinal podemos comunicar-nos como se estivéssemos em Star Trek, podemos pedir comida em casa, sorrir e espalhar nossa infinita felicidade pelas redes sociais.
Muito embora, às vezes, tenho a sensação de que mais que sociais, são só redes, redes que nos capturam em suas malhas e nos conduzem como um dócil e indefeso cardume ao mercado, onde nos vendem à melhor oferta.
E me pergunto, quanto desse incauto e esperançoso jovem ainda sobrevive?
Creio que nada mais sobra dentro de mim.
Caminho nostálgico e um pouco amargurado por não haver podido contribuir a nada de bom pro nosso mundo presente.
E agora, sentado diante da minha TV, ouço o repetitivo discurso dos que sempre sabem o que é certo, esses indignados opinadores que sabem solucionar todos os problemas do Brasil e do mundo.
É um verdadeiro banho de sensatez, onde só cabem boas ideias e humanidade.
E me pergunto, onde vão parar essas tão perspicazes opiniões? Em que ouvidos cairão? Em que corações? Se por muito que vivo pouco ou nada vejo que o mundo vá melhor?
Peço desculpas por não haver contribuído para um mundo melhor, mas a meu favor e a favor dos de minha geração que, como eu, assistiam as peças do Plinio Marcos, éramos muito poucos e sobre nossos ombros caia o enorme peso de querer, ou não, mudar um imenso e corrompido mundo.
Confesso que falhei, confesso que falhamos. E quem duvida é só olhar em volta.
Mas, hoje, são muitos os que assistem aos infinitos senhores da razão, que ensinam como deveriam se comportar nossos dirigentes em todos os poderes.
Explicando-nos que a segurança pública tem solução, que não deveríamos morrer nas filas do atendimento médico, que temos direito a não pisar em merda no meio fio da rua em que moramos.
Penso nos milhões que ouvem essas mensagens e sigo pensando que a maioria nada pode fazer, mas que há uma quantidade muito maior que antes, de gente que entende essa mensagem e escolhe não fazer nada.
E que me permitam adaptar a frase de George Santayana, “os povos que esquecem sua história estão condenados a repeti-la, porém aqueles poucos dentre esse mesmo povo, que estudam sua história, estão condenados a sofrer, ao ver como outros a repetem”.
E assim, alguns desses pobres condenados, vêm como se acabam suas esperanças e antes até de que se esgotem suas forças, escolhem a morte do entendimento e a alienação, diante da cacofonia que os rodeia e os enlouquece.
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