"A vida é como uma caixa de chocolates": Forrest Gump e as lições de vida para um pai de família atípica

Lembro-me como se fosse ontem. Eu tinha 16 anos e passava horas no balcão daquela locadora, um verdadeiro templo de histórias embaladas em fitas VHS não rebobinadas por clientes apressados. Sim… eu trabalhava em uma locadora de games e filmes. Ali, entre clássicos e descobertas, fui moldando minha visão de mundo e alimentando minha paixão pelo cinema.

Foi ali que conheci Forrest Gump (1994). O filme me atingiu como um soco no estômago e, ao mesmo tempo, como um abraço inesperado. Uma história sobre resiliência, sobre abraçar o inesperado e encontrar beleza na simplicidade. Mal sabia eu que, anos mais tarde, essa narrativa ganharia um novo significado em minha vida.

Em 2010, a vida me presenteou com Joaquim, meu único filho. Um garoto brilhante, uma criança linda, com grandes olhos azuis e um sorriso iluminado. Aos dois anos e meio, veio o diagnóstico de autismo e, junto dele, um novo capítulo repleto de desafios, descobertas e aprendizados. Foi então que Forrest Gump ressoou dentro de mim de uma maneira totalmente diferente. Ao rever o filme, percebi camadas que antes haviam passado despercebidas.

Joaquim cresceu desafiando estereótipos, inteligente, perspicaz, dono de um humor afiado. "Que autista é esse que carrega o sarcasmo no bolso?", me perguntava, entre sorrisos e admiração. Ele sempre foi especial, no melhor e mais amplo sentido da palavra.

Mas a vida, como a mãe de Forrest nos ensinou, é como uma caixa de chocolates. E, nos últimos meses, fomos surpreendidos por um sabor inesperado, amargo. Joaquim começou a enfrentar problemas motores, perdendo, aos poucos, a capacidade de caminhar. Hoje, está em uma cadeira de rodas, enfrentando um inimigo invisível, ainda sem nome.

Neste momento, revisitar Forrest Gump traz um peso ainda maior. As dificuldades cognitivas, somadas às incertezas do futuro, me fazem questionar: o que será do meu filho? Hoje, com limitações de movimento, preso a uma cadeira de rodas, enquanto uma equipe de especialistas, ainda perdida em hipóteses, investiga possíveis doenças neurodegenerativas. E ecoa em nossos corações: o que será de nós?

Minha ausência neste blog, meu silêncio nos últimos meses, se devem a essa batalha. Precisei me recolher, reunir forças e estar ao lado dele, sendo seu porto seguro. Assim como Forrest nunca desistiu de Jenny, minha esposa e eu nunca desistiremos do nosso filho.

"A vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai encontrar." Nunca essa frase fez tanto sentido para mim. Mas se aprendi algo com Forrest, é que, mesmo nos momentos mais difíceis, o amor, a esperança e a resiliência podem nos guiar.

Este texto é meu retorno. Um suspiro de amor e esperança. Quero que vocês, que sempre caminharam comigo, saibam que estou aqui. Vou continuar contando histórias. Mas, acima de tudo, sou pai. E meu filho precisa de mim.

Hoje é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, e quero agradecer ao diretor Robert Zemeckis por nos dar esse presente chamado Forrest Gump, um farol em meio à escuridão de tantas famílias atípicas, como a minha. E obrigado a vocês, leitores, por fazerem parte dessa jornada.

Seguimos em frente, prontos para descobrir qual será o próximo chocolate da caixa, na esperança de que ele tenha o sabor da esperança.

E, antes de encerrar, deixo um pedido: curtam mais seus filhos. Brinquem, se permitam mais. Deixem que se sujem, que brinquem na rua descalços, que corram riscos e se desafiem no mundo real. Meu filho sempre foi uma criança ativa. Hoje, ele não pode mais brincar como as outras.

Então, por favor: tirem seus filhos das telas. Brinquem de esconde-esconde, pega-pega, de qualquer coisa que a imaginação mandar. Criem memórias que vão pautar suas vidas.

Muito obrigado por chegar ao final deste post. Agora, não se esqueça de nos seguir nas redes sociais e deixar um "like" pois isso ajuda demais o nosso trabalho. Um forte abraço e até a próxima!