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São Paulo,20/01/2025

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Rosivaldo Casant

MUNDO PEQUENO

"Conheço você de algum lugar!” Imagine-se mudando de cidade ou fazendo uma viagem por outro estado ou mesmo por outro país e encontrando alguém que jamais imaginasse dar de cara na sua vida

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MUNDO PEQUENO O espelho

MUNDO PEQUENO

“Conheço você de algum lugar!”  Imagine-se mudando de cidade ou fazendo uma viagem por outro estado ou mesmo por outro país e encontrando alguém que jamais imaginasse dar de cara na sua vida. Houve um período da minha existência em que nada do tipo aconteceu. No entanto, nos últimos anos, passei a colecionar algumas histórias que orbitam no meu universo pessoal ou no seu entorno, ou seja, vivida por mim, por um amigo, ou contada por alguém próximo. Saquei algumas delas do baú das lembranças e passarei a narrar nos parágrafos seguintes.

Um amigo construtor, que gosta de uma boa conversa sobre os mais variados temas, contou-me que um conhecido de seu pai era um homem que vivia de maneira bastante tranquila, visto que já tinha conquistado razoável conforto material e financeiro depois da obtenção de casas, de carros e juntado uma boa quantia no banco e no colchão, na realidade um cofre em casa, recheado de dólares, euros e joias. Isso, obviamente, mantinha muita gente junto de si; embora ninguém se arriscasse a lhe pedir nada porque acreditavam que ele era um “justiceiro” (indivíduo que matava quem julgasse fazer maldade com outras pessoas, operando a justiça com as próprias mãos). Um camarada ousou pedir emprestada uma soma bastante alta e ele, simplesmente, atendeu. Com o dinheiro na mão o outro sujeito comprou um carro novo, vendeu tudo o que tinha e sumiu. O pai do meu amigo lamentou o prejuízo e disse ao sujeito que emprestou que, infelizmente, aquele dinheiro estava perdido para sempre; ao que o outro retrucou dizendo que mais dia, menos dia, o dinheiro voltaria para suas mãos. A família do meu amigo mudou-se para o litoral e, poucos anos depois, o conhecido de seu pai também, para uma cidade vizinha. No novo lugar, num belo dia de sol, ele observou um caminhão de mudanças ser descarregado numa residência próxima. Casa muito boa. Móveis excelentes. Viu chegar um carro bonito e novinho; e dele sair quem? Vocês não estão enganados, não. Deu-se o “Conheço você de algum lugar!” Quando o morador mais antigo se aproximou, quase matou o estelionatário de medo. Este teve que entregar as chaves e o documento do carro porque lhe foram exigidos e ele conhecia bem a fama de matador do homem. Dias depois, o carro foi transferido para seu novo dono, que o vendeu e considerou a dívida quitada. Justiça feita.

Uma outra história ocorreu comigo. Eu havia me removido para uma escola na Praia Grande e não tinha prestadores de serviços confiáveis como pedreiros, eletricistas e outros profissionais para reparos em eletrodomésticos, na casa, ou no carro. Perguntei na sala dos professores se alguém conhecia algum mecânico de confiança: um colega respondeu que sim e se prontificou a me guiar até a oficina do tal profissional depois das aulas encerradas no final da tarde. E foi assim que, quatro horas e meia depois, guiado pelo atencioso colega em seu carro e acompanhado de outro colega que ia para casa comigo de carona desde que nos conhecemos no início do ano letivo, achei-me no estabelecimento do tal mecânico de confiança. Fomos informados de que ele estava testando uma peça consertada em um carro e que em breve estaria de volta e nos atenderia. Eu escutei alguém dizer “Professor!” e acreditei que um de meus colegas atenderia, pois eu conhecia poucas pessoas na cidade. Novamente ouvi “Professor!” Como ninguém atendesse, o chamado foi contundente e nominal “Professor Rosivaldo, não vai me atender não?” Virei à esquerda e vi um rosto conhecido de longa data. Era uma ex-aluna de São Bernardo. Ela duvidou de que eu estivesse me lembrando dela e, então, declinei os nomes das suas irmãs, mãe, amigos e ela se convenceu de que a mente e o coração de um professor guardam o nome, o número de chamada de cada aluno seu e as artes (nem sempre bela artes, o que não era no caso contado aqui). Disse-me que seu marido era o mecânico que eu estava aguardando. Novamente deu-se o “Conheço você de algum lugar!” Ele passou a mecânico de confiança e amigo.

Alguém poderá estar pensando que lugares tão próximos podem propiciar desencontros e encontros do tipo citado nos parágrafos anteriores com relativa facilidade. Eu também acredito nisso. Pois bem, vamos considerar a distância entre um país do hemisfério sul e outro do hemisfério norte. Há muitos anos, meu irmão foi com a família ganhar a vida na América (como se não fosse América aqui também!). Por lá permaneceu cerca de dez anos. Fez lá o que fazia no seu país: construir e reformar edifícios. Certa feita, ele reformava uma área de lazer na casa de um amigo e chegou ao serviço depois de passar por outros lugares e a obra já estava seguindo na rotina. Enquanto trabalhava, organizando alguns materiais e ferramentas e orientando o funcionário, percebeu que um sujeito calvo e com barba escura, olhava-o com uma certa insistência. Ele ficou muito incomodado. Não preciso dizer o mundo de coisas que passou pela mente dele. Continuou incomodado, mas o camarada estava na casa de um amigo, provavelmente seu convidado; então, o negócio era continuar trabalhando e evitar olhar para o lado em que o sujeito estava. A certa altura, chegou o dono da casa, que cumprimentou efusivamente o visitante estranho e chamou meu irmão, apresentando o barbudo. Era um brasileiro que em meio à viagem de trabalho, aproveitou para visitar aquela família. Seu nome era Antônio. Iniciaram um papo que foi se prolongando e entre as perguntas surgiram as recorrentes: De onde você é? Ambos eram de São Paulo. O Antônio era de São Bernardo do Campo. Meu irmão disse que eu morava nessa cidade também. O rapaz perguntou o bairro. Riacho Grande, respondeu meu irmão. “Espera um pouco! Eu morei toda a minha infância e adolescência lá. Conheço muita gente. Fala o nome do seu irmão, por favor.” Meu irmão atendeu e disse meu nome. “O Rosivaldo, o Rosi do Seminário?” “Isso!” “A gente se conhece desde os doze anos. Já jogamos muita bola juntos. Por isso que eu olhava para você ali trabalhando, pensando que o conhecia, embora não me viesse a mente de que lugar. Que mundo pequeno! Quando falar com seu irmão, diga-lhe que você conheceu o Rato aqui nos Estados Unidos.” Mais uma vez, deu-se o “Conheço você de algum lugar!”

Meu irmão me ligou, dizendo que a coisa mais louca tinha acontecido com ele por aqueles dias e relatou esse encontro, dizendo para eu não estranhar, pois assim que retornasse ao Brasil, o Rato me ligaria, porque, agora, recuperara o contato comigo. De fato, alguns dias depois, meu amigo me ligou e disse: “O mundo é pequeno e eu reencontrei você.”



COMENTÁRIOS

Mundo pequeno, imprevisível e surpreendente!

Às vezes somos traídos pela memória, de repente ela se escapole e dá trabalho para rerncontrá-la. Sua crônica retrata com clareza e graciosidade essa situação. Contudo, lembro-me perfeitamente de você, amigo Rosivaldo.

Amei ler essa crônica! Realmente o mundo é pequeno...

Muito legal e divertido ler esses acontecimentos!Um Feliz 2025. Eu já te vi em algum lugar!Feliz dia de crônica! Eu te conheço?Kkkkkk.

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