Sydnei Migli
SISTEMA E CORRUPÇÃO, DUAS FACES DA MESMA MOEDA
O Brasil já é um Narco Estado.
Há muitos anos li “O Processo” do Franz Kafka. E voltando a lê-lo me surpreendeu a incrível semelhança que há entre o que ele relata em sua ficção e o que hoje presenciamos na sociedade brasileira vindo do poder judiciário.
Já sabem os que me leram antes que não me atraem as explicações elucubradas, que tentam dar um sentido superior ao que em realidade é a expressão dos mais baixos instintos da natureza humana.
Por isso deixemos de tentar dourar a pílula e tanto o que descrevia Kafka, como os que agora temos no poder, seja judiciário ou executivo, sem esquecer o legislativo, não passam, em sua esmagadora maioria, de psicopatas e simples ladrões.
E sem ânimo de explicar, que para isso já existe um montão de gente mais sabida que eu, mas com o intuito de tentar entender como nos metemos nesse pântano de excrementos, resolvi buscar em minhas memórias as possíveis origens dessa loucura que hoje nos envolve e, que a meu ver, residem no microcosmo em que habita a maioria de nós.
E pensei que revisitar esse mundinho da periferia em que cresci, traria um pouco de luz ao que vivemos hoje. Pois ali pude ver em minha infância como havia um vizinho que, de modo natural, exibia sua carteirinha de fiscal aos feirantes e sem gastar um tostão, voltava para casa com a sacola cheia de frutas, verduras e um pouco de pescado.
Já lhes disse que era o microcosmo e nele fui crescendo e vendo cada dia mais.
Vi como um senhor de nome Rubens, mais conhecido como Rubão, presenteava no Natal a mais de um policial civil que parava a viatura em frente da sua casa, entrava e saia com um “presentinho” embrulhado em jornal, com um sorriso de orelha a orelha.
Ou como esse mesmo senhor, fazia desaparecer durante a noite a carga de um caminhão, que no dia anterior havia chegado de Santos, sem que fosse empresário de nada.
Até que um dia também fez desaparecer do planeta a outro ser humano e como, às vezes, o que aqui se faz aqui se paga, um dia também foi dessa para melhor; vítima de um pedaço de chumbo que viajou em sua direção à velocidade subsônica. Levando junto a “inocentes” brasileiros que lhe acompanhavam em um almoço no sítio.
Como podem ver meu bairro estava cheio de surpresas, havia também um contrabandista de óleo diesel, além de dois ou três desmanches, que em alguns casos também vendiam cocaína.
Mas como tudo isso faz muito tempo, a atualidade faz com que minhas memórias infanto juvenis pareçam o mundo dos Teletubes.
Já na vida adulta pude trabalhar em uma empresa de produtos importados e comprovei de modo estatístico que 110% dos fiscais da Fazenda, seja estadual, federal ou municipal, são corruptos de mão cheia e nunca se conformavam com simples Reais e pediam milhares de dólares para fazer de conta que tudo estava bem.
Onde quero chegar com isso? simples; apenas dizer que essa gente, tanto os que sonegam como os que “comem bola”, não são enviados por uma espécie alienígena para nos corromper, não senhor, são legítimos brasileiros.
Estão entre nós, são homens e mulheres que um dia se sentaram ao nosso lado na escola, gente comum que cresceu em um ambiente parecido ao meu bairro, que não era uma favela, onde sempre houve água encanada, esgoto, asfalto e iluminação pública.
Afinal de que matéria, nós os brasileiros, estamos constituídos?
Pois se olhamos em volta nos deveria dar vergonha, como um diminuto país como El salvador, que há dois anos era o país mais violento do mundo, é agora o mais seguro.
Ou como o também diminuto e semiárido Burquina Faso, que há dois anos estava sob domínio econômico da França, agora está exibindo crescimento na agricultura e começa a forjar seus primeiros lingotes de ouro.
Esses países, além de diminutos geograficamente diante do Brasil, têm uma população muito menor que a nossa e partem de um patamar econômico muito inferior.
De que estarão feitos esses seres humanos?
O Brasil, mesmo com os muitos problemas que existem, tem uma quantidade de pessoas que se formam a cada ano que supõem mais conhecimento que esses dois países juntos. E, no entanto, não nos surge sequer um líder como o Bukele ou o Ibrahim Traoré.
Nossa população se mata entre si a níveis de guerras, cometemos mais “feminicídios” que vários países somados.
E quando queremos recordar um momento bom dos últimos tempos, nos lembramos de quando o brasileiro podia viajar, quando o aeroporto parecia uma rodoviária.
Esquecendo-nos que mesmo nesse momento persistia a ausência de saneamento básico para mais de 50% da população.
Falta de saneamento que provocava e segue provocando diarreia em crianças e recém-nascidos, matando a uns e prejudicando o desenvolvimento cerebral de outros, deixando comprometido o futuro de milhares ou de milhões.
Se somos conhecidos pelo nosso calor humano, por que sempre vemos o econômico, como mais importante que as vidas dos humanos?
E correndo o risco de ser repetitivo sigo perguntando-me, por que seguimos indo a votar?
Se por muito que se exalte a democracia como o maná que caiu do céu aos israelitas, está mais que provado que não funciona.
Que uma vez eleitos, os políticos votam o que parece melhor para eles e seus financiadores. Os corpos biológicos sucumbem quando não conseguem alimento, sejam mamíferos ou simples bactérias.
As instituições políticas morrem se o povo lhes dá as costas.
Todos os que defendem o voto popular, como única saída para esse inferno escondem um interesse meramente egoísta.
Das duas, uma, ou são diretamente candidatos a algum cargo, ou são críticos que pensam em ser eternos habitantes da tribuna das reclamações.
Pensem como exemplo na corte do Supremo, essa escória é vitalícia, o que significa que teremos que aguentar suas decisões por quinze ou vinte anos ainda, sem falar da imensa carga que representam ao erário público, que no final das contas é o pagador de impostos.
Ou nos incontáveis policiais, juízes e juízas que o PCC e o CV têm infiltrados no sistema, esses canalhas seguirão minando sorrateiramente as bases da sociedade, com suas decisões esdrúxulas e criminosas.
O que só comprova que na prática já somos um legítimo Narco Estado e que ir votar não tem feito com que o Brasil melhore.
A cada dia que passa os únicos organismos que crescem dentro da população são os do crime, seja ele organizado ou não.
A Constituição não é a palavra de Deus, é uma obra humana, que pode e, no caso do Brasil, deve ser alterada para que não haja mais distinção entre os cidadãos.
E para quem pensa que a volta do Bolsonaro, ou da direita brasileira, vai modificar em algo esse status quo, pode tirar o cavalo da chuva. Paulo Guedes antes de sair defendia as moedas dos Bancos Centrais, as famosas CCBC, como um avanço inexorável.
Ou seja, essa direita salvadora é apenas uma forma de seguir e perpetuar um Estado que, ainda que mais enxuto, seguirá sendo confiscatório e controlador.
Que não tocará nos privilégios dos milhões de parasitas que o cidadão tem que sustentar, afinal insistem em respeitar a Constituição e jogar nas quatro linhas.
Ou surgem movimentos que defendam teses libertárias, que expulsem literalmente do poder essa multidão de parasitas, ou seguir votando só confirma que a definição de loucura é, seguir fazendo sempre o mesmo e esperar que o resultado seja diferente.
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