Antonio de Paula Oliveira
Pequi: o Fruto que Conquista o Brasil.
Pequi: o Sabor inesquecível
O pequi pertence à família Caryocaraceae e é encontrado principalmente no bioma Cerrado, que abrange uma vasta área do Brasil. A maior reserva da espécie localiza-se na região Centro-Oeste, mas ocorre em outros estados como Minas Gerais Distrito Federal, São Paulo e Bahia. É também conhecido como: piqui, pequiá, piquiá, piquiá-brabo, amêndoa-de-espinho, grão-de-cavalo, piquiá-pedra, pequerim e suari. Seu significado na língua indígena é “casca espinhosa”. A árvore que dá origem ao fruto, o pequizeiro, é uma planta de porte médio a grande que podem atingir de 15 a 20 metros de altura.
O pequi sem espinho nasceu da descoberta de uma árvore extraordinária, que gerava frutos naturalmente livres de espinhos. Certamente uma anomalia na planta, afirma a equipe de estudos da Emater. O agricultor de Cocalzinho, no Mato Grosso, não conseguiu reproduzi-lo através de mudas. A Emater de Goiânia foi até a propriedade e lá os pesquisadores fizeram um clone da planta do pequi com o uso da técnica de enxertia. “A planta foi multiplicada, e está sendo reproduzida, estudada e acompanhada”, disse a coordenadora da equipe de pesquisas e estudos da Emater de Goiânia, Elainy Botelho. Após 16 anos, ela já fornece mudas para interessados em plantar o pequi sem espinhos. “O fruto do pequi sem espinho também é uma drupe, que contém uma polpa oleosa e uma semente grande no seu interior. Tem um gosto mais adocicado, mas tão comestível quanto qualquer outro pequi”, concluiu Elayne.
Segundo antropólogos, o pequi é um alimento tradicional dos povos indígenas, especialmente dos que vivem no parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. Para os silvícolas, a fruta sempre fez parte da sua alimentação cotidiana por se tratar do alto teor nutritivo e a grande disponibilidade na região.
No Cerrado brasileiro, os pequizeiros florescem na primavera e sua produtividade ocorre a partir do 4° ou 5° ano de vida, ele é colhido nos meses de novembro até março. Conhecido por seu sabor inconfundível e aroma marcante, ele é amplamente consumido em toda região Centro-Oeste, onde é um verdadeiro símbolo da culinária centro-oestina. Também é consumido nas regiões Norte, e em partes do Nordeste e Sudeste. Mas o seu valor vai além do simples uso na gastronomia. Esse fruto possui benefícios nutricionais, propriedades medicinais e uma história cultural rica que está intimamente ligada às tradições dos povos do Cerrado.
Existem diversas espécies do gênero, mas o Caryocar brasiliense é o mais conhecido e utilizado para o consumo no Brasil. O pequi é uma planta adaptada às condições áridas e à baixa pluviosidade do Cerrado, essa característica faz dele um símbolo da resistência da flora dessa região. Com uma excelente fonte de nutrientes essenciais para a saúde, a polpa do fruto é rica em lipídios, especialmente ácidos graxos que são benefícios para o coração. Além disso, o pequi contém proteínas, carboidratos, vitaminas A, C, B1, B2 e potássio. A polpa do pequi é também usada em preparos de licores e tintas muito usadas pelos indígenas e artesãos.
O valor nutricional do pequi não se limita apenas à polpa, a semente também possui propriedades benéficas. O óleo extraído das sementes é amplamente utilizado para diversos fins medicinais, como no tratamento de doenças respiratórias, dermatológicas e inflamatórias. O óleo é conhecido por suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, e é comum em cosméticos e produtos farmacêuticos. Contudo, é na gastronomia onde o fruto faz o maior sucesso.
A paixão gastronômica dos goianos pelo pequi é uma fonte inesgotável de sabor único e marcante. Durante a temporada de pequi, que se estende de novembro até março, as ruas de Goiânia ficam aromatizadas pelo seu cheiro e pela cor amarela dos grãos da fruta. Ambulantes, feiras de produtos hortigranjeiros e supermercados expõem o pequi descascados promovendo uma grande comercialização.
De pratos simples a sofisticados, o pequi aparece em diversas receitas, feito com arroz, galinhada, frango ao molho e até em receitas mais inovadoras. Mas sempre com aquele preparo autêntico, único em seu sabor e essência, que o transforma em um dos pratos mais tradicionais. É uma iguaria indispensável em almoços familiares, celebrações festas e conversas regadas pelo sabor inconfundível do pequi. Além do prazer gastronômico, o fruto carrega consigo um simbolismo de resistência e identidade. Ele é a representação de uma cultura que valoriza o que é local, que respeita os saberes ancestrais e celebra a rica biodiversidade do cerrado. Para muitos goianos o pequi não é apenas um alimento, é memória, música e poesia, história, é parte de uma vida enraizada nas terras de Goiás.
A tradição de consumir o pequi é passada de geração em geração e os mais jovens aprendem a apreciá-lo, a prepará-lo e inseri-lo à mesa com os familiares e amigos, criando momentos de prazer e partilha, satisfazendo os mais exigentes paladares e cativando aqueles que rendem à sua força. Em Goiás, o pequi é mais que um fruto, é uma paixão que se vive todos os dias, um sabor que atravessa gerações e faz parte da alma do povo goiano.
Recentemente, o fruto foi alvo de uma disputa entre Minas Gerais e Goiás para oficializar o título de capital do pequi. O Deputado Federal Marcelo Freitas queria oficializar o título para a cidade de Montes Claros, no Norte de Minas. Segundo ele, desde o século 17 os tropeiros que vinham do Nordeste o consumiam naquela cidade e levava para outras regiões. Contudo, o Governador de Goiás, Ronaldo Caiado, afirmou que o pequi está no DNA dos goianos. Dois dias depois do pronunciamento do Freitas, Jose Nelto, Deputado goiano, entrou com um projeto para fazer do pequi patrimônio cultural, ecológico e ambiental nacional. A ação provocou um reboliço com muitos comentários nas redes sociais sobre as disputas para esse título.
É inegável que o pequi é um verdadeiro patrimônio cultural do país, com inúmeros benefícios incontestáveis, o fruto se firma como uma das mais valiosas contribuições da flora brasileira para a gastronomia e saúde, além de representar a resistência as adversidades, como as queimadas e desmatamentos em um dos biomas mais biodiversos do mundo.
COMENTÁRIOS
Francisco
em 02/12/2024
Fui conhecer pequi na cidade de Papagaios MG onde comi a especiaria com arroz branco e gostei muito