Rosivaldo Casant
AIRAM, A EMPREGADA
Hoje em dia, é difícil encontrar pessoas nas quais confiemos; o que se dirá de bons auxiliares no trabalho doméstico
AIRAM, A EMPREGADA
Hoje em dia, é difícil encontrar pessoas nas quais confiemos; o que se dirá de bons auxiliares no trabalho doméstico. Não é problema exclusividade da minha família, eu sei. O outrora tradicional mordomo (como o Alfred, passando pano na casa de Bruce Wayne e limpando as teias da batcaverna), a cândida governanta (com o toque mágico de Mary Poppins, no filme de mesmo nome), não existem mais; e, talvez, seja uma ficção romântica de livros, filmes e novelas de época; até porque, a estrutura de administração das famílias foi alterada com a modernização da sociedade, surgindo várias composições diferentes de casais e de filhos.
Isso é quase regra, ou falta dela, hodiernamente. Contudo, como para as regras pode haver exceções, apresento a própria exceção, a Airam. Talvez, ela pudesse achar que “a própria” fosse uma referência a si mesma, mas não acredito nisso.
A Airam veio do interior de São Paulo há muitos anos, mas conserva o jeito matuto de enxergar as coisas e bem caipira no falar; o que só lhe confere maior graciosidade. Além de muita interação com todos que estão ao seu redor, ela aceita resignada e, quase agradecida, as brincadeiras que fazemos com ela. Também sabia que minha mania de anotar uma infinidade de coisas fora do comum na agenda já tinham capturado algumas de suas falas e ela perguntava: — Você vai colocar isso que eu falei agora no seu livro? Vai, né?
De pronto, cito alguns dos termos mais utilizados por ela nos muitos anos que nos auxiliou, como Cróvis, Cráudio, crube e frizi, correspondendo, obviamente, a Clóvis, Cláudio, clube e freezer. As pérolas foram se repetindo e se renovando através dos anos.
Num certo dia, após seu trabalho intenso, desde a manhã até às dezoito horas, fomos levá-la para casa, como era uma prática nossa havia muitos anos. E como era comum, fomos conversando pelo caminho e ela nos disse que a filha de uma de suas outras patroas estava montando uma escola de inglês. Perguntamos o que estava faltando para começar a funcionar. Ela respondeu:
— Não sei o que está faltando pra ela montar!
— Só falta a sela pra ela montar, Airam — brinquei.
— Sala ela já tem, tem duas. — não entendeu a brincadeira
— Eu disse S E – L A, Airam!
— Ah! — continuou não entendendo. Deve ter compreendido “sei lá” e pensado: — "ele não sabe e eu também não sei!”
Não fiz questão de me fazer entender e levar adiante a conversa; estávamos nos aproximando da sua casa, para o seu merecido repouso. Além do mais, sabia que ela contaria aos filhos e ao marido naquela sua tão conhecida simplicidade e todos ririam, inclusive ela, depois que entendesse o jogo de palavras usado enquanto esteve no carro conosco. Na próxima semana ela chegaria contando e diria que todos em sua casa riram muito dela e, depois, quando entendeu, riu muito também. Essa atitude desprovida de mágoa e rancor, mas cheia de alegria pela vida e um jeito de não se levar tão a sério sempre manteve nosso carinho e respeito por Airam.
Certo era que um novo dia de aventuras com a Airam estaria se iniciando a cada novo encontro, continuaria ao longo do dia e a noite em casa com a família, se encerrando na chegada do outro dia que estivesse conosco, quando contaria que entendeu a brincadeira da semana anterior; sempre com a ajuda dos filhos e do marido. “Craro” que ela havia entendido tudo!
COMENTÁRIOS
Rosivaldo
em 30/11/2024
"Elementar, minha cara Watson, digo, Vera!" Descobriu o segredo. Esse é o gostoso de publicar as crônicas, o retorno de vocês. Prepare-se, a Airam tem mais uns dois capítulos. Sim, uma vida de muita singeleza, Renilda, que merece todo o respeito e carinho. Taí, Antônio! Para um excepcional escritor como você, a Domingas pode oferecer a mãos cheias elementos deliciosos para uma boa história. Que figura a Airam! Que figura a Domingas! Que figuras são vocês, meus diletos amigos! Obrigado
Vera
em 29/11/2024
Esse nome é novidade: Airam.kkkkkm. Mas eu decifrei. Maria. Li da direita para a esquerda .
Renilda
em 29/11/2024
A simplicidade de uma vida simples e feliz num relato de puro carinho e respeito aos seus semelhantes.
Antonio
em 29/11/2024
Bonitas crônicas que retratam a singeleza da vida real. Essa relação harmoniosa, demonstra carinho e respeito pelas nossas queridas auxiliares. Lina e eu, temos a Domingas que nos acompanha a 16 anos.
Osman
em 29/11/2024
Que figura essa Airam !!kkk
Francisco
em 02/12/2024
A Vera decifrar o nome foi a melhor kkkkkk. AIRAM