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São Paulo,25/11/2024

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Sydnei Migli

OS ELEITOS, OS ATEUS E A HIPOCRISIA

Atribuir-se a condição de eleito ou escolhido, só ressalta a Xenofobia.


OS ELEITOS, OS ATEUS E A HIPOCRISIA

Para fazer meus comentários eu poderia escolher dentro de uma grande variedade de notícias, mas como já sabem, tenho uma predileção especial em apontar o que, na minha particular opinião, considero ser as mazelas dos USA.

Lembrando sempre que esse país é o farol que ilumina toda a humanidade. Com a graça de Deus, é claro.

A notícia eu lhes conto depois, porque o que me chamou a atenção foi a indignação e revolta que essa notícia causou no meio político americano e a solução apresentada por eles.

A indignação fez com que três representantes do governo se manifestassem e cito, o senhor Vivek Ramaswamy indicado para compor o governo Trump, o governador da Flórida Ron de Santis e o senador pelo estado de Idaho, Jim Risch.

Todos eles foram unânimes em pedir que o governo volte a implementar a Doutrina Monroe e ressuscitar assim a ideia do Destino Manifesto.

Ideias que no século XIX despertaram um enorme desejo de conquista territorial nos governantes americanos, mas que já haviam sido formuladas há um bom tempo atrás.

Pois os historiadores acreditam que a semente de tais ideias foi plantada em 1630, através dos primeiros colonizadores que chegavam da Inglaterra e da Escócia, que em sua maioria eram Puritanos ou Protestantes.

E dentre eles havia um pastor Puritano, John Cotton, que nos deixou essa pérola em forma de desígnio para as futuras gerações, atenção: 

“nenhuma nação tem o direito de expulsar outra, exceto por um desígnio especial do céu, como os israelitas tinham, ou que os nativos agissem injustamente contra ela. Nesse caso, eles terão o direito de travar, legalmente, uma guerra com eles e subjugá-los.”

E assim, incubando durante séculos, essa ideia da predestinação divina, ou do Direito Manifesto na cabeça dos seus habitantes e de seus líderes, acabou por resultar no que se convencionou chamar de “O Mito Da Fronteira”. Que dizia que, essa nação “eleita” estava destinada a tomar posse de todas as terras desde o Atlântico ao Pacífico.

E assim através da cabeça dos políticos surge em 1823 a Doutrina Monroe, atribuída ao presidente James Monroe e cuja frase que sintetizava essa ideia era: “a América para os americanos”. 

E assim sob a proteção dos anjos do senhor, esse povo eleito caminhou rumo ao oeste. Seja com iniciativas individuais, como na “febre do ouro”, tomando terras indígenas. 

Ou quando, lá pelo ano de 1846 o presidente James Polk, desperta a Doutrina Monroe, para justificar o desejo americano sobre terras mexicanas.

 Declarando a guerra contra o México e conquistando por direito divino, os atuais estados do Texas, Califórnia, Novo México, Arizona, Nevada, Utah e o Colorado, somente 2 milhões e 100 mil quilômetros. 

Pra gente ter uma ideia seria como anexar o Amazonas e Minas Gerais, quase nada.

Essa extensão representava 55% do território mexicano na época, mas como um verdadeiro defensor da ética e da justiça, o governo americano indenizou o governo mexicano com 15 milhões de dólares. 

Aqui um parêntese, pois é curioso como essa ideia de direito sobre a terra se parece em sua concepção a uma outra ideia que surgiu alguns anos depois, a ideia do “espaço vital”. Que foi repetida muitas vezes em um país da Europa e que sustentava muitos argumentos em um livro intitulado “Minha Luta” de um tal Adolf.

Mas deixemos isso de lado e pensemos no que disse o presidente Abraham Lincoln:” Estados Unidos é a última e maior esperança sobre a face da Terra”.

 Ou então, ainda melhor se relembramos o que disse Theodore Roosevelt em 1904, que em suas sábias e inspiradas palavras, descreve o Destino Manifesto americano: 

“Se uma nação mostra que sabe agir com razoável eficiência e com senso de conveniência em questões sociais e políticas, se mantém a ordem e respeita suas obrigações, não precisa temer a intervenção dos Estados Unidos. A injustiça crônica ou um relaxamento geral das regras de uma sociedade civilizada, na América ou no exterior, pode obrigar os Estados Unidos, ainda que contra sua vontade, a exercer um poder de policial internacional.”

Alguém poderia dizer mais alto, porém não mais claro. 

 E seguindo com a nossa história...

...passados alguns anos e depois de várias incursões pela América Central e até nas Filipinas o grande benfeitor branco, sossegou o facho por um tempo, deixando de lado o resto da América, como um quintal que dá preguiça de cortar o mato.

E quem somos nós para questionar os grandes desígnios de homens ungidos e sábios?

O fato é que passam os anos e surge na Europa uma ideia muito parecida ao destino manifesto e ao mito da fronteira, como já mencionamos antes, mas que ao que parece, não estava ungida por nenhum deus.

O resultado é o que todos conhecemos e graças aos senhores americanos, Europa pôde salvar-se, pelo menos a metade dela.  

Creio que o que veio depois, ou seja, a “ajuda” americana, acabou sendo um presente de grego. Pois em troca da sua salvação e nas mãos de políticos cada vez mais corruptos e uma elite parasita, Europa se tornou a colônia de férias da indústria do armamento americana. 

Sei que o que descrevo aqui pode suscitar dúvidas, pois as resumi e simplifiquei, mas como dizia o Jair, pra quem tem dúvidas, dá um Google aí e comprova.

Agora é hora da gente voltar pro começo, pra falar da tal notícia que nos trouxe até aqui e que deixou irritados os sacro santos líderes da divina democracia .

A saber:

 a inauguração de um novo porto na cidade de Chancay, no Peru, onde o governo chinês investirá 3,6 Bilhões de dólares e uma empresa chinesa COSCO, terá 60% de participação.

Um dado curioso é que muito antes de assinar esse contrato com o diabólico governo chinês, a presidente do Peru, esteve em Washington em 2023, onde o presidente Biden teria perdido a oportunidade de bendizer o Peru com sua graça divina, ao não propor a ela nenhum acordo comercial que pudesse dar ao Peru, a privilegiada condição de amigo dos deuses e que propiciaria aos USA, com certeza, instalar uma base militar a mais em solo peruano.

Mas, por um momento, tentemos colocar-nos no lugar dos ungidos. 

Eles não podem permitir que uma ditadura ateia e materialista instale um porto de dimensões internacionais, com mega gruas, caminhões elétricos sem condutor, com profundidade para atracar qualquer navio, mas que, claro, isso quer dizer que também pode atracar um porta aviões e isso deixa qualquer servo do senhor preocupado.

Afinal isso que faz a malvada China é muito mais perigoso do que destinar dezenas de milhares de soldados a uma base, a milhares de quilômetros do território americano e nela instalar lançadores de mísseis, com capacidade de levar ogivas nucleares e que por casualidade apontam pro país vizinho, que em muitos casos pode ser a China.

Bases que não trazem muito mais benefício à população local que fomentar a prostituição que gira ao seu redor.

Não acredito que o governo chinês seja santo, sei que há uma disputa de poder internacional. Que dentro da China há abusos e autoritarismo, coisa que sabemos todos e deveria estar incomodando mais aos chineses que ao ocidente.

Por isso não consigo entender uma coisa, se as ações chinesas são maléficas para o mundo, porque não se combate comércio com comércio.

Por que não se combate a atitude chinesa de expansão comercial, com as mesmas armas comerciais?

Por que os governos americanos não constroem pontes, estações ferroviárias, estradas, usinas elétricas na África para contrapor a influência chinesa no continente africano?

Ou então com um décimo do que gasta em armas o divino império, poderia construir infraestruturas em toda a América Central e do Sul, que considera seu quintal, mas o tem abandonado. 

Mas não, em suas próprias palavras, eles querem reviver a Doutrina Monroe e evocar seu Destino Manifesto, para impedir que a malvada China, um país onde não há um deus que os ampare, pois aos olhos dos piedosos americanos são um povo de ateus, venha a trazer sua maléfica influência aos peruanos e adjacências.

 E tudo isso dá o que pensar, se Estados com aprovação “democrática” ou "proteção divina" como os USA, ou seu apêndice Israel, ou o Islam, que ao serem eleitos pelo Senhor julgam-se superiores, mas que apenas deixam em evidência sua xenofobia profunda e que causaram e seguem causando somente morte, dor e destruição.

Quem sabe não seria mais conveniente seguir o exemplo de um estado ateu e autoritário, que dá provas de pensar que o que vale é o livre arbítrio. Onde cada nação deve dirigir-se a si mesma.

E que em suas relações de comércio não impõe condições, não interfere em sua política interior e principalmente, não povoa seu país com um montão de soldados e armas, que acabam por transformar os "protegidos" em alvos potenciais. 

Isso só prova que o mundo está do avesso, onde não valem os atos em si, mas a hipocrisia das suas narrativas.




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