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São Paulo,27/01/2025

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Sydnei Migli

O PEIXE E A VARA DE PESCAR.

Não Lutemos Entre Nós, Lutemos Contra os Que Nos Oprimem.


O PEIXE E A VARA DE PESCAR.

 O PEIXE E A VARA DE PESCAR

Creio que certos conceitos nos levam a simplificar demasiado a vida e o cotidiano, pois facilitam expressar uma mensagem, mas que, muitas vezes, podem levar-nos a uma radicalização.

Por muito que lutemos contra isso é uma luta em vão. Nos encasquetamos com uma ideia e a repetimos um milhão de vezes enquanto a ouvimos ser dita e repetida por outros milhões de vezes.

 Até que já não podemos saber se aquilo é o que pensamos de verdade. E nos recusamos a questioná-la, porque dói ou dá trabalho. Não suportamos sequer ouvir uma contestação dessa nossa certeza inabalável. 

Cometemos o mesmo erro daqueles a quem apontamos como obtusos defensores de ideias emburrecidas, porque claro, as nossas certezas são a verdade.

Comento isso a propósito de uma notícia que me chamou a atenção," o governo quer controlar o Bolsa Família para que os beneficiários não usem o dinheiro em apostas".

Bem, poderíamos começar a comentar essa notícia lembrando que o maior cassino do Brasil é de propriedade do governo, com suas inúmeras loterias. Loterias das quais confiscam de cara, mais da metade do arrecadado e ainda por cima, tributam os prêmios dados aos ganhadores. 

Isso nos leva a pensar que, querer controlar a maneira como o cidadão gasta seu dinheiro, mostra a ponta do iceberg que se aproxima com as moedas digitais, que serão monitoradas pelo governo. Esse é o sonho úmido de toda ditadura, nos dirão: onde, como, quando e quanto poderemos gastar  do “nosso dinheiro”.

Mas o que queria comentar é outra coisa. 

Assistindo os que comentavam a notícia ouvi de um desses comentaristas que, "essa compulsão que o brasileiro tem por uma ajuda do governo é a principal lacra que deveríamos acabar para poder repensar o Brasil. Que todo mundo sempre está de olho em um benefício pra viver na boa."

Ou então a seguinte história, contada por um dos que comentavam, de que em um dos seus passeios pela praia teve a oportunidade de ouvir como dois rapazes de não mais de 35 anos, quando um deles comentava que trabalhava, mas que também “defendia” algum do Bolsa Família e estava com medo de perder o benefício, por algum motivo que não se explicou. Rapazes fortes e bem-criados, comentou.

A esse propósito, compararemos com outra chaga da nossa sociedade, a insegurança pública.

 É comum ouvir o seguinte comentário, com o qual estou de pleno acordo: sem uma justiça penal mais severa, onde os delinquentes saibam que vão cumprir uma pena longa em sua totalidade; um melhor aparelhamento e preparação dos policiais que deveriam também ser em maior número e a retirada de todos os privilégios de que dispõe os presos, sem isso, não seremos nunca capazes de diminuir a delinquência e a letalidade do crime.

Ou seja, em uma abordagem simples e direta, aos efeitos da insegurança, se pode ver com clareza como é possível combatê-la, não a extinguir, mas dar mais tranquilidade à população.

Abordando mais ou menos da mesma forma o “problema” das ajudas, em seu aspecto mais exterior, poderíamos dizer que : um filtro de entrada que realmente identificasse os que “de verdade” necessitam já diminuiria os casos de aproveitadores. O problema não é do benefício, mas sim, da mais absoluta incompetência em gerenciá-lo.

Ou seja, da mesma forma que uma melhor justiça penal, uma melhor polícia e condições mais duras de prisão, podem diminuir a violência. Também é possível diminuir os abusos no uso das ajudas com um critério sério e fiscalização, coisa que tanto no crime, como no caso das ajudas poderia funcionar.

E não pensem que não sei do que estou falando, muito embora não seja especialista em administração pública conheço muito bem o outro lado. 

Sei que há pessoas que necessitam de uma ajuda para se levantar e que depois de um tempo podem dispensá-la, pois podem se sustentar sem ela.

E também conheço pessoas que, mais que necessitar ajuda e isso há que reconhecer, são pessoas que não valem para muita coisa e o melhor que podemos fazer com elas é dar-lhes uma melhor condição de subsistência, vou explicar-me melhor com um exemplo que me toca muito, muito de perto, pra que não pensem que falo de “orelhada”.

Eu a conheci criança, um bebê, agora na verdade já é uma mulher, mãe de dois filhos. Ela nunca esteve em um trabalho formal, se crê artista, consome e produz sua própria yuasca. Passa o dia pintando e acreditando produzir arte popular pra vender no fim de semana na pracinha da cidade. Quando não pinta ou bebe yuasca, toma cerveja e vê a que velocidade cresce o mato em seu quintal.

Em que lugar do planeta Terra, uma pessoa assim trabalharia? Ou melhor, qual é o empresário que gostaria de ter em sua empresa uma funcionária com essa disposição e atitude?

E não se trata de buscar as origens, as causas que produziram essa criatura, pois essa seria outra discussão. Se trata de um problema real que pode e deve ser enfrentado.

Pensem comigo por um instante, dá no mesmo se a pessoa cobra 600 ou 1000 Reais. Com esse dinheiro ela não pode fazer nada mais que sobreviver, pensem comigo um pouco mais, todo o dinheiro que ela recebe se transforma em compras no supermercado ou na padaria da esquina. 

Esse dinheiro não serve nem é suficiente pra fazer uma poupança. Todo o seu dinheiro  é gasto em produtos que estão tributados, então mais ou menos trinta por cento desse dinheiro é devolvido ao mesmo governo que lhe deu a ajuda em forma de impostos e o demais serve para alimentar os negócios do comércio local.

Essa pessoa a que me refiro e sei que há muitas por todo o Brasil e pelo mundo, essa pessoa faz um enorme favor à sociedade quando se coloca à margem e deixa espaço pra que outros, que querem, trabalhem. Todas elas jamais poderão contribuir com seu esforço, mas nem por isso devemos querer que morram à mingua. 

Elas têm a sua função social que é marginal e antes de sair chingando essas pessoas, desafio a qualquer um que me lê agora, se estariam dispostos a ser sustentados pelo governo em troca de não ter um gato pra puxar pelo rabo. 

Se equivocam aqueles que consideram essa busca de ajudas como um defeito exclusivo da “civilização brasileira”.  Posso afirmar com segurança que não. É algo que passa e está passando agora mesmo em todo o mundo, não importando onde você haja nascido ou se educado. 

De modo deliberado, ou não, se confunde um problema eminentemente político, de maus políticos, que ao gerir a economia dos seus países em seu próprio benefício, acabam influindo na capacidade de sobrevivência autônoma de uma parte da sua população.

Além do mais, isso das ajudas também me faz pensar na enorme quantidade de inúteis encostados nos governos municipais, estaduais e federais. Nos tribunais, nas delegacias, no parlamento e no senado. Alguns desses inclusive legislam sobre seus próprios salários. 

Essa máquina gigantesca e inoperante vive dos impostos tanto quanto os que recebem ajudas, a diferença é que simulam estar fazendo algo. Seja no alto ou no baixo escalão eles acreditam ou fingem acreditar na sua própria mentira, são em grande parte tão inúteis quanto essa moça que citei.

Eles fingem que nos atendem nos hospitais públicos, fingem que se importam com a nossa segurança, fingem que lutam contra as injustiças.

As ajudas que na verdade são esmola pública como dizia a música, “ou lhes mata de vergonha ou vicia o cidadão”, se consomem em sua totalidade pra sobreviver. 

Ao contrário dos salários nababescos de políticos, juízes, desembargadores e apadrinhados, que servem pra pagar viagens de luxo e quem sabe uma comprinha nos USA ou na Europa, pagando impostos no exterior. 

Comprando casas pra seu futuro exílio dourado, enquanto no Brasil, se seguirá sustentando uma nova geração de parasitas com roupa de grife e a classe média, cega e enraivecida, através da sua mídia “liberal e conservadora”, seguirá colocando a culpa em milhões de pobres coitados que precisam de ajuda pra não morrer de fome.

Não lutemos entre nós, lutemos contra os que nos oprimem.




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