Sydnei Migli
A MARMOTA E O BRASIL
A fogueira das paixões deve ser sempre alimentada com novos e inocentes eleitores.
Sei que tenho que manter-me atualizado com o que passa no Brasil, mas me nego a ouvir e ver os que consideramos “sérios críticos da atualidade política”. Que para mim, não passam de enfadonhas e monótonas cabeças falantes, como as que vemos em Futurama.
E como sempre faço isso pela manhã, pra não amargar o dia, vejo o Oi Luís. Atualmente meu único ponto de informação sobre o Brasil.
E nesse exercício matinal, enquanto tomo meu café da manhã, qual não foi minha surpresa ao descobrir que o Ricardo Nunes é do MDB. Passadas algumas horas e quase refeito do meu espanto, me dei conta que o MDB é desde 1988 o partido com mais representantes nos municípios de todo o Brasil.
E pensar que até 2006 eu vivia no Brasil e nem me dava conta dessa excrecência, produto, sem dúvida, da atribulada que era minha vida em busca da simples sobrevivência. Imagino que essa é a condição em que vivem milhões de brasileiros e que acaba por explicar muito do que vemos ao nosso redor no Brasil de hoje.
Quando penso nesse MDB hegemônico, ainda me vem à mente a imagem do Orestes Quércia, que em seu momento rivalizava com o Paulo Maluf em indecência política. Mas que juntos tinham uma cosa de bom, não podiam esconder detrás de suas caras de salafrários, a asquerosa podridão que representavam.
Uma indecência que outros escondiam, como o senhor Ulisses Guimarães e sua renovada Constituição Cidadã. Que conseguiu piorar as condições de vida da população em geral.
Pois criou uma sociedade dividida em cidadãos de 1ª e de 2ª classe. Dando passagem à criação de uma estrutura de tecnocratas, funcionários, políticos, militares e um Judiciário acomodado e corrupto. Uma sociedade paralela que hoje vive às custas da população trabalhadora e dos empresários.
Essa classe de político camaleão, que parece que dá cria no Brasil, é à qual pertence o Ricardo Nunes e a totalidade do MDB nacional, claro, sempre segundo a minha ótica.
Isso só comprova que ainda há no Brasil uma quantidade de gente tão atarefada com a subsistência que nem se dá conta disso e entroniza esse bando de calhordas na direção do país.
Sinto-me como o protagonista daquele filme com o Bill Murray, “O dia da marmota”. Posso imaginar o que deve ser acordar cada dia sabendo de antemão o que vai passar. Claro que essa sensação está superdimensionada no filme, o que faz com que a entendamos com claridade.
Já para um habitante da terra Brasilis, isso fica mais difícil de discernir, pois além da já citada busca pela subsistência, temos ao redor um verdadeiro exército de elementos de distração e não creio sequer que esses elementos saibam o verdadeiro papel que desempenham.
Essa imensa massa esverdeada e asquerosa a que chamamos “classe” política, não possui uma cabeça pensante por detrás. São simplesmente o lado mal da espécie humana que se junta em um grupo composto de facínoras e escroques, ladrões vulgares e vigaristas banais.
Isso por um lado.
Por outro lado, há todo um exército de jornalistas que, mesmo que às vezes nos pareçam os que destapam a verdade. Não passam de coadjuvantes nessa imensa comédia sem graça que é o Brasil.
Participam do jogo por gerações, às vezes por vaidade intelectual, mas sempre como forma de sobrevivência econômica, algo que é mais do que legítimo, mas que, como digo, não passam de atores secundários em busca de uma aposentadoria e que a conquistam apenas com suas línguas e suas tribunas modernas.
À esses dois grupos devemos somar a legião de políticos reformadores, jovens brilhantes em suas oratórias, homens e mulheres capazes, que se somam a política esgrimindo sua absoluta abnegação.
Devemos crer que são uns desinteressados, estão aí pelo desejo de servir o povo e varrer a corrupção. Apoiados pelos já citados jornalistas “sérios”, as tais cabeças falantes e seus raciocínios claros e inquisidores.
São políticos que nos inspiram em seus discursos, como antes nos inspiraram outros, cada um a seu modo, cada um em sua época, sempre adaptados às necessidades dos seus momentos. Sempre em palanques rodeados de ególatras e oportunistas.
Uma vez diante do elenco dessa interminável comédia trágica brasileira, proponho um simples exercício de observação.
Peço que prestemos atenção ao alto desses palanques em que se amontoam todo tipo de bajuladores. E depois façamos a nós mesmos a seguinte pergunta.
Como pode ser que aqueles que julgamos justos, sérios, honrados e reformadores. Abnegados defensores do povo podem estar misturados, repartindo apertões de mão com famigerados pecadores, leigos e “religiosos”?
Vejo a tudo isso como uma indisfarsável orgia, alimentada por uma população embriagada de paixão, ilusão e esperança.
Se ainda em mim restasse alguma crença nessa asquerosa classe, lhes juro que sua mensagem me atravessaria o coração e junto com esses milhares que saem às ruas pedindo toda classe de justiça e paz, eu me juntaria num coro por um Brasil melhor.
Mas sinto que se esgotaram, não minhas forças, que ainda as tenho. Mas minhas esperanças.
Já não consigo deixar-me levar pelas antigas paixões, que antes povoavam meu interior e me fizeram acreditar em muitos desses energúmenos de terno e gravata.
Confesso aqui que fui um crente, um apaixonado, mas que em um exercício diário e por vontade própria, deixei definitivamente de acreditar na espécie a que pertenço.
Aviso aos que se sintam tentados a seguir esse tratamento, que é um amargo remédio, que me dói às vezes e me custa engolir a dose diária que me mantêm isento de paixões.
Mas penso firmemente, que abandonar essa fé é a única forma de livrar-se dessa canga, que nos colocam desde que nascemos até o dia da nossa morte.
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