Sydnei Migli
Nas entranhas do Brasil
O Socialismo nivela a sociedade à mediocridade geral.
Minha esposa é minha maior crítica. Diz que eu nunca me fixo no particular, que sou muito impessoal, que penso no mundo em sua totalidade sem pensar nos indivíduos.
Digamos que sou obrigado a lhe dar a razão, pois como sabemos todos os que somos casados, para que haja paz entre um casal a mulher sempre deve ter razão.
Vai daí que nesse fim de semana tive a oportunidade de observar um comportamento que me chamou a atenção e não sei se por reconhecer meus defeitos ou por querer vingar-me de minha maior crítica, vi que tinha diante de mim uma oportunidade única.
E muito embora eu esteja acompanhando, como a maioria, o intenso deterioro da sociedade mundial e especialmente brasileira. Coisa que seguirei fazendo. É sempre um impacto duro, assistir em 1ª pessoa essa realidade. Talvez por isso fuja das avaliações pessoais. Porque causam em mim uma sensação de abandono e desânimo.
Sei que a muitos como eu isso lhes incomoda, afinal gostariam de deixar de herança um mundo melhor do que aquele que herdaram de seus pais.
Também reconheço que é algo que se repete na história, onde as gerações mais velhas sempre consideram que os mais jovens são uns incompetentes e a partir daí desenvolvem um sem-fim de queixas, que mais que nada refletem sua impotência e não uma preocupação real de como a humanidade poderá perseverar.
Mas ao olhar o panorama não exclusivamente da juventude, mas em especial do ensino, penso de maneira automática, como será o futuro?
Enquanto isso uma maioria se resigna, diante de uma decadência que vai mais rápido que descer em tobogã em dia de chuva.
Mas voltando ao caso real deixo claro que não é uma ficção, isso aconteceu de verdade.
O fato é que há alguns dias tive diante de mim uma “professora”, numa conversa em uma mesa a um metro de distância, quer algo mais pessoal?
Pois ela nos contava indignada como, em sua escola, seus enormes esforços por ensinar aos seus “alunos”, não eram reconhecidos pelos que compartiam com ela, essa nobre tarefa de ensinar aos nossos jovens.
Explicou-nos com riqueza de detalhes como se desdobrava em sua tarefa como “professora” de artes e música. E como buscava enriquecer o curriculum que lhe foi passado e que ela, do alto de sua capacitação como “professora”, considerava pobre e escasso. E por isso buscava sempre “algo mais”, pelo bem e pelo futuro acadêmico de seus “alunos”.
Tarefa que eventualmente a obrigava a sair da sala de aula e por “breves” momentos os deixava desatendidos. E, por pura inveja segundo sua avaliação, isso não parecia algo correto aos olhos dos outros docentes, gente, segundo ela, sem visão e por isso incapaz de entender suas atitudes em prol do crescimento dos seus “alunos”.
Antes de seguir adiante deixo aqui, algo pra gente ir pensando enquanto descrevo minha enriquecedora experiência. Em realidade a sala nunca está completamente abandonada pois junto a ela sempre existem duas “colaboradoras” mais em classe, para “apoiar” os “alunos”.
Colaboradoras?? Apoiar??? Sigamos.
Apenas para contextualizar ainda mais. Ela pertence a uma escola Municipal, é “professora” concursada e efetivada. Usufrui de um salário equivalente a um pouco mais de dois mínimos, por 4 horas de “aula” diárias. Salário que obteve seu último reajuste na gestão Bolsonaro, só pra constar.
Na verdade, ela não esconde que às vezes teve que sair da sala pra atender um ou outro telefonema pessoal, deixando a classe “sozinha” e que ao que parece isso não lhe pareceu muito bem à diretora e tão pouco às “colaboradoras”, que por instantes ficavam sem a presença da profissional que iluminava a todos com sua simples presença.
Vocês devem imaginar, a típica perseguição aos que se destacam.
Alguns dados pessoais a mais e que podem ajudar-nos a construir o perfil dessa nossa “professora”. Quem sabe seja apenas uma casualidade sem nenhuma importância, mas ela é eleitora do PT e apoia de maneira incondicional e irrefletida, todos os seus derivados em matéria de conceitos de como deveria ser uma sociedade ideal e igualitária.
Durante esse ano esteve de baixa a maior parte do tempo, segundo ela por desequilíbrios hormonais, motivo que a levou a um psiquiatra. O qual vem renovando suas baixas sempre que ela necessita, ou seja, ela trabalhou de modo intermitente a maior parte do ano. Entremeando algumas aulas com largos períodos de baixa.
Nesse período discutiu com a direção tentando fazê-los entender o quanto ela e seu “método” deveriam ser valorizados, pois representavam um grande aumento no nível educacional dos seus “alunos”.
Agora mesmo está diante de uma decisão difícil e eu posso entendê-la perfeitamente.
Como a Diretoria da escola não a pode despedir, dada sua condição de “concursada” e “efetiva”, a direção, não vendo nela condições para que continue em uma sala de aula. Pois são incapazes de avaliar a joia rara que têm diante. Eles lhe propõem que se junte ao quadro de funcionários da administração.
E assim manter seu trabalho e seus benefícios como funcionária. É uma decisão difícil, afinal os administrativos têm uma carga horária de 8 horas diárias e ganham menos do que o que ela ganha atualmente por exercer de “professora”.
Sinto que, aos que são devotos da sociedade socialista e igualitária, essa situação lhes parece a de um escravo moderno, condenado a uma humilhante jornada de 8 horas diárias. E ainda por cima, ter que mesclar-se com “inferiores” intelectuais, é muito incômodo para eles.
Depois de ouvir com atenção seu relato lembrei-me que tinha algumas coisas que me deixaram em dúvida e lhe perguntei qual era a função das duas colaboradoras que a acompanhavam em aula. Que classe de apoio era necessário? Sempre com muito respeito pois como já deixei a escola há décadas e nunca vi em classe mais que um professor, pedia a ela que não se ofendesse com minha pergunta, por mais que lhe parecesse impertinente.
Ela por sorte não a tomou a mal, digo sorte pois com isso dos hormônios não se deve brincar.
E tranquilamente explicou-me que, às vezes um, ou mais de um de seus “alunos” se distraia com alguma outra coisa, um brinquedo, uma mosca voando ou simplesmente começava a chorar de maneira desatada. E nesse momento intervinham as colaboradoras.
Claro que em sua lógica ela estava esclarecendo-me, mas o que fez foi aumentar ainda mais minha curiosidade. Já sabem todo cuidado é pouco, hormônio, psiquiatra, vai que eu atravesso uma linha vermelha e esse metro que nos separa não é suficiente para proteger-me.
Mas não poderia sair dessa conversa sem fazer uma última pergunta, mesmo sentindo que havia um certo risco. Seguramente era coisa da minha cabeça e me lancei a perguntar.
Afinal quantos anos têm seus “alunos”?
E assim com espantosa tranquilidade ela me disse que eram “alunos” que iam dos 2 anos aos 5 anos.
Dessa conversa participaram outras pessoas, que ouviram a mesma resposta que eu, no entanto, só a mim isso me pareceu, pra dizer o mínimo, um tremendo absurdo.
Tá vendo por que evito descer ao “pessoal”?
Porque depois de ouvir isso, me ponho a pensar, quem é, em sã consciência, que considera que cuidar de crianças de 2 a 5 anos é exercer de “professora”?
E não me refiro à pessoa que tinha diante de mim. Pois essa está definitivamente comprometida em seu raciocínio lógico e acredita em cada palavra que diz.
Penso nas pessoas que estão dirigindo o sistema de ensino no Brasil. Naqueles que elaboraram o exame que admitiu a essa e outras milhares de “professoras”.
Dando a esses cidadãos o imenso privilégio de jamais ter que provar sua verdadeira eficiência, pois os transformam em brasileiros de 1ª classe, com emprego vitalício e salário pro resto da vida.
Tudo isso com um diploma que não passa de papel molhado, sem valor real, pois essa “professora” em sua explanação deixou patente sua pouca erudição, um português de dar pena, a falta de um raciocínio lógico e a mais absoluta ausência de bom senso.
Melhorar o curriculum? Pensar no futuro acadêmico dos seus alunos?
Essa foi uma experiência real, com uma brasileira de verdade e isso assusta.
Isso é que dá mergulhar fundo nas entranhas do Brasil. Faz a gente perder a pouca fé que tinha, de "que até no lixão nasce flor".
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