Rosivaldo Casant
RIQUEZA DE LINGUAGEM NA PG
Faço de tudo, tenham a certeza, para que nenhum erro ortográfico ou exagero linguístico permaneça no texto.
*RIQUEZA DE LINGUAGEM NA PG
Aproveito o acalanto da noite na PG, quase uma canção de ninar (nossa filha pet deve gostar de ouvir essa palavra, principalmente na terceira pessoa do presente do Indicativo, Nina), para deixar mais algumas impressões do viver nesse recanto.
Faço de tudo, tenham a certeza, para que nenhum erro ortográfico ou exagero linguístico permaneça no texto; por isso, conto com a leitura e as observações da Tata, minha digníssima consorte e minha mais ardorosa incentivadora, não só na produção textual como em tudo o mais na vida. No entanto, um “que” e/ou um “com” a mais vão como brinde. Assumo total responsabilidade pelo fechamento e postagem da crônica – toda exposição traz seu risco.
Num escrito anterior, minha revisora (minha ardorosa incentivadora), entre outras observações, apontou palavras não muito usuais, como “longeva” e “urdida” e questionou-me sobre a utilização de termos tão desconhecidos nos dias atuais. Concordei que eram palavras fora do uso comum e que, sistematicamente, venho colocando duas ou três palavras assim nas crônicas da PG. Disse-lhe que era de propósito que fazia desse jeito, pois quero provocar a curiosidade das pessoas e leva-las a pesquisar o significado de diversas palavras, assim obtendo riqueza vocabular; não podemos nos tornar como o PATROPI, personagem de Orival Pessini, também criador do FOFÃO (se quer saber do que estou falando, mate a sua curiosidade e pesquise, as fontes de informação estão à mão, literalmente).
As palavras têm poder, disse-lhe (tenho certeza de que já ouviram isso em algum lugar). Têm; tanto que ela compartilhou comigo um encantamento seu de adolescente com a palavra “cético”. Muito jovem, impressionou-se com o som produzido ao pronunciá-la. Encantar-se com o sentido das palavras, assim como me encanto com P-R-A-I-A G-R-A-N-D-E é indescritível! O Zeca Diabo, em o Bem-Amado, novela da Globo, baseada num texto homônimo de Dias Gomes, enamorou-se da nomenclatura profissional “protético”, a ponto de dizer para quem quisesse ouvir que poria no filho que viesse a ter o nome de PROTÉTICO.
A propósito de nomes sacados da imaginação por pais, na maioria das vezes sem o conhecimento das esposas e, geralmente, com a capacidade de reflexão perturbada pelo excesso de álcool por conta das comemorações com a chegada do rebento, mulheres receberam nomes como Xerox, Fotocópia e Autenticada. O jornalista Sérgio Porto, cronista do Diário Carioca, Tribuna da Imprensa, Rádio Mayrink Veiga, que usava o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, teve filhas com nomes comuns, como Gisela, Solange e Ângela, mas escreveu em “História de um nome” sobre a paixão de seu Veiga por colecionar livros e filhos com nomes que tivessem relação com livros: Prefácio da Veiga, Prólogo, Índice, Tomo, Capítulo, Epílogo e a filha caçula; querem saber o nome? Pesquisem na internet e poder-se-á ver que faz todo o sentido.
É bom que fique bem claro que não se faz aqui nenhuma defesa do uso de palavras difíceis meramente para impressionar o leitor, como aquele vestibulando que ensaia um texto, colocando palavras difíceis, ainda que fora de contexto, acreditando que poderá impressionar o examinador das redações do certame. Não. Até porque, gosto de pensar que há pessoas com um cabedal de conhecimento que não se permitem ser pegas de surpresa com termos inusuais. Vê-se, por aqui, que um simples prefixo “in” confere à palavra certo poder, elegância: inflexível, por exemplo.
Alguns amigos me desafiam e me inspiram a continuar propondo algumas palavras ou termos como a cereja do bolo. Um, não nasceu no país, mas o tem como seu e cultiva uma riqueza vocabular sem retoques (com certeza perceberá a sutileza de ter colocado uma das sílabas de seu nome neste parágrafo); um outro, também engenheiro como o já citado, começou a corresponder-se comigo há poucos anos, por whatsapp e cada manhã, em seu cumprimento matinal, foi acrescentando um toque linguístico aqui e ali e hoje eu o elogio pelos belíssimos textos que produz. Uma senhora que conheci há alguns meses enviou-me algumas folhas de caderno com um texto em letra cursiva, pedindo para que a ajudasse na produção de um livro com a história de sua família. Fiquei surpreso com a qualidade das ideias e tenho procurado ajudar com orientações que não interfiram em sua capacidade autoral para que ela encontre o seu jeitão de escrever.
Bem, todos os recursos de que pudermos lançar mão para relatar nossa relação com a PG, nosso amor por este lugar e pelas pessoas que vivem ou passam temporadas aqui, serão largamente utilizados e compartilhados, inclusive as palavras tão maltratadas pelo abandono dos falantes do idioma pátrio.
*11/4/2021 Data da publicação no Facebook, Portal da PG, página pessoal, com pequenas atualizações para o blog do Sensus.
COMENTÁRIOS
Rosivaldo
em 19/10/2024
Que satisfação receber os parabéns de um escritor como você Antonio, articulista de uma das colunas do Sensus e autor de vários livros, a la Guimarães Rosa - alguns que li - muito bons; como você Jailton, amigo feito nas caminhadas na praia, dono de uma experiência e de uma cultura incomuns, com quem dialogo e aprendo muito; e como você Veruska (professora Vera), aplicadíssima, com muito conhecimento da língua culta e simplicidade no trato com as pessoas, especialmente comigo. Obriga
Antonio
em 13/10/2024
O Colégio secular D.Pedro II de Belo Horizonte, me apresentou Machado de Assis, ainda na adolescente. Foi muito importante para mim. Só não entendia quando Machadinho levava seus filhos (Alienista) para à casa de Orates em Barbacena MG. Não tinha o Aurélio para me socorrer. Era "louco" demais. Essa crônica, Rosivaldo, me fez relembrar esse ocorrido. Parabéns!
Jailton
em 11/10/2024
Parabéns amigo mestre você me faz. Lembrar alguns professores de português e certa vez quando fazia curso de Madureza tive um bate boca com uma professora porque ela insistia em nós ensinar os tempos dos verbos e eu reclamei se ela não ia ensinar outra coisa cara a mulher ficou u.a fera me fez uma pergunta e eu não soube responder tomei uma rabada do cadete....
Vera
em 11/10/2024
O conceito linguístico de gramática culta e comum traduz bem essa polêmica de escrever gramaticalmente correto com as Normas Gramaticais Brasileiras.É impossível reunir todas as frases, estruturasda norma culta em uma crônica, pois o cronista relata fatos cotidianos e estes compreendem as várias falas e estratificações sociais.Parabéns! Continue em frente com seu belo trabalho.