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São Paulo,10/11/2024

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Antonio de Paula Oliveira

O Forte da Colina de Tatuapara

Quando recebi o livro “O Feudo” das mãos de uma amiga nem imaginava que iria gostar tanto. Um livro didático, historiado, filosófico, científico e profundo.


O Forte da Colina de Tatuapara

Quando recebi o livro “O Feudo” das mãos de uma amiga nem imaginava que iria gostar tanto. Um livro didático, historiado, filosófico, científico e profundo.

– Antonio de Paula, impossível não apreciar essa obra. Todo historiador e jornalista precisam desbravar as 700 páginas que foram cuidadosamente elaboradas pelo professor Moriz Bandeira.  

Ângela estava convicta que me interessaria pelo livro. Logo nas primeiras páginas, me prendi na narrativa didática e poética do professor, cientista político e historiador Luiz Alberto de Viana Moriz Bandeira. A cada página lida, um pouco da desconhecida história se apresentava sobre a importância que o administrador Garcia D’Ávila contribuiu para o desbravamento da região Nordeste, a conquista do sertão, o combate aos invasores holandeses, as guerras travadas com os indígenas, as produções agrícolas, uma guinada nos aspectos sociais e políticos de toda a região. 

Garcia D`Ávila, o administrador, foi o maior latifundiário do mundo, dono de milhares de alqueires de terras e idealizador da Casa da Torre, uma construção Fortificada com características medievais no alto da colina da praia do Forte, município Mata de São João na Bahia. 

 D’Ávila foi um grande senhor de terras que promoveu o desenvolvimento do Nordeste e do Brasil no século XVII. Era visionário, entendeu o potencial econômico da região e trabalhou para aproveitar a vasta quantia de terras e milhares de escravizados que lhe pertencia. O trabalho dele ajudou a transformar o Nordeste em um importante polo de produção de açúcar, o que não só gerou riqueza para a região, mas também impulsionou a economia do país. A história conta também sobre a crueldade que Garcia praticava contra seus milhares de escravizados. A dualidade ética dele permeava entre o bem e o mal, desprovido de sentimento humano com frequência rotineira. 

 O livro discorre por uma temática despida das narrativas didáticas escolares, um estilo romanesco, sem arrodeio para contar a longa história. Um pouco parecido com os livros de Laurentino Gomes.  

Passados alguns anos da leitura de “O Feudo”, finalmente fui bater no portão de entrada do grande castelo da Colina de Tatuapara. Percorremos de carro por uma estrada movimentada por turistas e banhistas das praias locais, como a praia do Forte e a praia do Lord. Depois de atravessarmos o pórtico, pegamos uma estradinha margeada por coqueiros e vegetação nativa que nos levou à fortaleza. O visitante paga R$36,00 para visitar todo o conjunto edificado e tombado pelo IPHAN em 1937. 

Andar pelas ruinas, passar debaixo dos arcos construídos em pedras, visitar inúmeras salas, portais que no passado emolduraram grandes janelas, nos fazem sentir em um cenário de filmes medievais. Podemos andar por passarelas instaladas e visitar quase todos os lugares. No andar superior, através dos portais das janelas, descortina uma vista deslumbrante que atravessa os coqueirais e vá ao encontro do mar. Um dos pontos mais importantes da construção é a capela São Pedro dos Rates que foi restaurada. Desde as ruinas majestosas, as muralhas da fortaleza, até o museu interativo, pode-se mergulhar na história e encontrar em cada pedra das paredes um capítulo da história colonial. É impressionante a engenhosidade dos construtores, lembrando que a obra foi construída no século VXII. 

  Na minha mochila levei garrafas com água, protetor solar e meu material de jornalista curioso. Driblar os ambulantes não é tarefa fácil, eles são aguerridos. Ademais, tratá-los com cordialidade é a obrigação de todos, pois, eles estão ali para defenderem o sustento familiar. A água de coco é a mais gostosa do Nordeste, chega a ser adocicada, salgado mesmo é somente o preço que se paga na Colina de Tatuapara. Contudo, vale muito a pena visitar o castelo, é uma imersão na história e no tempo. Hoje, o castelo Garcia D’Ávila não é apenas um lugar para admirar, mas também um convite para refletir sobre o nosso passado, uma oportunidade para entender melhor a nossa identidade e o papel que seus idealizadores desempenharam no cenário da história colonial brasileira.



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