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São Paulo,19/09/2024

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Sydnei Migli

O PODER DE DIZER NÃO.

O Sistema somos nós.


O PODER DE DIZER NÃO.

Há muitos, muitos e muitos anos atrás eu ouvi pela primeira vez alguém falar do crime organizado. Diziam que no dia em que o famoso crime organizado chegasse no Brasil seria o fim.

Diziam isso porque acreditavam que, aqui no Brasil os criminosos eram todos meia boca, uns pés de chinelo, que isso de organizar era coisa de importação. Que o nosso negócio é bagunça.

Bem, pois pra alegria de todos o crime organizado chegou. E com uma rapidez incrível, se colocou em pé de igualdade com as maiores organizações internacionais.

Tais como o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia, que como comentei, não passam de cópias ampliadas do modelo mafioso. Mas vamos nos restringir ao crime tupiniquim organizado. Embora tanto um como o outro têm a mesma origem.

E pra quem pensa que vou falar do PCC ou Comando Vermelho, ou ainda de uma das dezenas de facções que “trabalham” no Brasil, está enganado. 

Dá até vergonha falar disso, já que todo brasileiro de mediana compreensão pode ver por si só de onde vem o crime, quem o deixou crescer e ainda o alimenta.

Deixemos um pouco de lado o que seriam as ideologias, não falemos de esquerda ou direita, Capitalismo ou Comunismo. Falemos de nós, sim, de nós. De mim e de você, das nossas famílias e dos nossos amigos.

E aproveitando que estamos falando da gente, podemos falar também do Sistema. Essa enigmática figura à qual nos custa tanto colocar uma cara reconhecível.

Estou aberto a contestações, mas a mim me parece que o Sistema somos nós, posso até imaginar uma cena em um filme qualquer onde a pessoa entra numa sala escura e quando acende a luz, toma um baita susto com sua própria imagem em um espelho.

Tem medo não, é só você mesmo.

Peço desculpas se alguém possa sentir-se ofendido ou, que ache que não tem nada a ver com o crime, que reina literalmente em todo o território nacional. Mas, calma e pensemos, quantos de nós não conhece alguém que ficou com um troco a mais em um comércio, ou mesmo que, jamais tenha feito algo errado assim tão banal, mas que não é capaz de repreender um amigo ou um parente que o fez. 

Quem não conhece um amigo, ou tem um parente que conseguiu algum cargo público ou privado, na base do QI(quem indicou). Quem nunca foi na Caixa Federal, Estadual ou no Banco do Brasil e ali lhe atendeu uma múmia paralítica. E pensou, com inveja, bem que poderia ter feito o concurso quando minha mãe me falou. Eu poderia ser essa múmia, com salário de funcionário e estabilidade.

Quando estava no primário a Prefeitura resolveu arborizar a calçada de uma avenida no caminho da minha escola. Sabem quanto duraram em pé, essas árvores? Dois dias, isso há 60 anos atrás. E não, não foram os zumbies que as derrubaram, eles ainda não existiam.

Esse nosso comportamento como povo, de moral tão flexível, que não vê delito nas espertezas. Que faz brincadeira e piada com desvios de conduta moral ou cívica. Isso é como a bolinha de neve que alguém solta do alto da montanha e a cada metro vai juntando neve e ganhando velocidade. 

Nenhum dos políticos que nos governam, são Ets que nos invadiram roubando nossos corpos. 

São brasileiros filhos e netos de outros brasileiros. Assim como todos os magistrados que embora pareçam estar tomados por um espírito diabolicamente imbecil, são brasileiros natos.

Que dizer dos Federais, esses amáveis cumpridores de ordens desumanas, que prendem velhinhas, ou dos seus primos irmãos os fiscais das Receitas, que enriquecem cobrando “por fora” dos que podem pagar, enquanto destroçam a vida dos que não podem. Quem nunca foi parado pela Rodoviária Federal e saiu ileso pondo uma nota no meio do documento? 

O Sistema não é uma entidade espiritual, o sistema é uma construção entre todos nós. Esse Sistema, que agora parece ter adquirido vida própria e nos observa do alto de suas torres de marfim e  que sabe da fragilidade dos seus súditos.

O crime das ruas, os inúmeros negócios que o PCC tem a nome de testas de ferro, só existem hoje porque os políticos permitiram, porque os juízes se vendem, os fiscais são corruptos em um 110% e os peixes pequenos seguem querendo um lugar no Olimpo, nem que pra isso tenham que deixar morrer inocentes todos os dias em nossas cidades, ou prender baderneiros como terroristas.

Há algo de nojento em nosso comportamento e falo por haver vivido isso bem de perto. Podemos separar os momentos em que somos brasileiros, há um brasileiro do churrasco e caipirinha, alegre e simpático, mas que às vezes olha com demasiada condescendência os que são mais pobres. 

Só pra informação. Não  falo de ouvido, também não sou um ET, a hospitalidade e simpatia do Brasil, eu a provei na pele. 

Conheci esse outro brasileiro e pude sentir sua ignorância, sua violência, sua desonestidade e sua falta de empatia. Aprendi vivendo fora, que não somos melhores e tão pouco piores, apenas humanos. Aqui na Europa, não há um humano superior, apenas um sentido de sociedade e cooperação que talvez e somente talvez, salve o que parece ser  o fim de uma civilização.

 Aceitar nossas mazelas pode ser o começo de uma nova fase. Buscar conhecimento pode ajudar individualmente a entender que, os que  nos representam somos nós mesmos, se os acusamos de corruptos, assim o são porque assim nós somos. Votar não vai mudar o cenário, somente o mais absoluto desprezo pode mudar algo. 

Os políticos vivem dos nossos votos, deixemos de alimentá-los, que morram na praia. Exerçamos o único poder que ainda nos resta, o poder de dizer não.



 




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