A frase de Virgílio, que Ludwig von Mises adotou como o motto de toda sua vida… “Não ceda ao mal, mas continue cada vez mais corajosamente contra ele.”
Ludwig Heinrich Edler von Mises (29 de setembro de 1881 – 10 de outubro de 1973) foi um economista, historiador, lógico e sociólogo da Escola Austríaca. Mises escreveu e deu palestras extensivamente sobre as contribuições sociais do Liberalismo clássico. A Praxeologia é um estudo famoso sobre a ótica da ação humana comparando comunismo e capitalismo; revolucionou a compreensão do dinheiro, inflação e recessões; refutou exaustivamente os argumentos a favor do socialismo; e forneceu uma crítica devastadora das metodologias da economia convencional. Os seus estudos foram apreendidos pelos nazistas e depois vendidos aos comunistas (de irmão para irmão). Mises fugiu de seu país para não ser morto. Viajou na mala de um carro. Seus livros salvariam milhões de vidas. Chegou aos EUA sem saber inglês e escreveu “Ação Humana” de mais de 1000 páginas em inglês e se tornou sucesso mundial. Suas contribuições para a Escola Austríaca lançaram as bases intelectuais para pensadores como Hans H. Hoppe , Murray Rothbard e Israel Kirzner.
Ele é considerado um dos pensadores econômicos e políticos mais influentes do século XX. [1]
Entre muitos de seus feitos Mises conseguiu provar que alocar recursos sem a propriedade privada dos meios de produção é impossível.
Em seu estudo em 1920 Mises assim descreve o controle dos meios de produção pelos planejadores centrais assim impossibilitando o cálculo econômico sob o socialismo:
“Quando o marxismo proíbe solenemente que seus partidários se preocupem com problemas econômicos que vão além da expropriação, ele não está adotando nenhum princípio novo, uma vez que todos os utopistas, em todos os seus devaneios, também negligenciam quaisquer considerações econômicas mais profundas, concentrando-se exclusivamente em pintar cenários lúgubres para as atuais condições, e cenários fulgurantes para a era de ouro que virá como consequência natural dessa Nova Revelação.
Quer se considere a chegada do socialismo como sendo um resultado inevitável da evolução humana, ou que a socialização dos meios de produção é a maior das bênçãos ou o pior dos desastres que pode acometer a humanidade, ao menos se deve consentir que uma investigação acerca das condições de uma sociedade organizada sobre os princípios socialistas é algo que vai um pouco além de ser apenas “um bom exercício mental, e um meio de se promover a clareza política e a consistência do pensamento”. Em uma época em que estamos nos aproximando cada vez mais do socialismo, e que até mesmo estamos, em um certo sentido, dominados por ele, uma investigação detalhada acerca dos problemas inerentes ao estado socialista adquire uma significância suplementar para a explicação do que está acontecendo ao nosso redor.”[1]
Yuri Maltsev ¹, fez a seguinte menção honrosa acerca de Ludwig Von Mises e seu brilhante estudo:
“Hoje, as consequências desastrosas da imposição dessa utopia na desventurada população dos estados comunistas já estão claras até para seus líderes. Como Mises previu em sua introdução, a despeito da “quimera de suas fantasias”, os pombos assados acabaram não voando diretamente para dentro das bocas dos camaradas, ao contrário do que Charles Fourier havia dito que ocorreria. E até mesmo de acordo com as estatísticas oficiais da URSS, 234 dos 277 bens de consumo básico incluídos pelo Comitê Estatal de Estatísticas na “cesta básica” da população soviética estão “em falta” no sistema de distribuição do estado.
Todavia, os defensores ocidentais do socialismo ainda seguem repetindo a mesma ladainha sobre a necessidade de se restringir os direitos de propriedade e substituir o mercado pela “sabedoria” do planejamento central.
Em 1920, o mundo negligenciou e rejeitou o alerta misesiano de que “o socialismo é a abolição da racionalidade econômica”. Não podemos nos dar ao luxo de repetir esse erro novamente. Temos de estar sempre alerta a todos os esquemas que porventura possam nos levar a uma nova rodada de experimentos estatais sobre as pessoas e sobre a economia.
“A propriedade privada dos fatores materiais de produção”, enfatizou Mises, “não representa uma restrição na liberdade de todas as outras pessoas poderem escolher o que melhor lhes convém. Representa, ao contrário, o mecanismo que atribui ao homem comum, na condição de consumidor, a supremacia em todos os campos econômicos. É o meio pelo qual se estimula os indivíduos mais empreendedores de um país a empenhar a melhor de suas habilidades a serviço de todas as pessoas”.
Que jamais voltemos a ignorar as constatações deste grande pensador, pelo bem da liberdade e das gerações futuras.”
O cálculo econômico, por si só, não foi feito para contradizer o socialismo, e é apenas um conceito dentro da lógica de funcionamento do capitalismo. Como se sabe, em sistemas de mercado pode-se livremente ofertar e demandar os mais variados tipos de bens de tal forma que não exista vigilância no quanto os indivíduos porventura queiram se beneficiar dessas trocas; i.e., o lucro ou o preço de melhor custo-benefício podem ser determinados de forma individual – o que abre margem para a determinação de médias entre preços que já foram anteriormente planejadas a partir de juízos de valor anteriores, feitos particularmente –, e os mais diversos bens passam a ter uma conversão monetária legitimamente equivalente ao valor das moedas; ainda específicas para a região do mercado em questão, já que as atuações analisadas são vinculadas à tal região. No socialismo, os bens de produção são coletivamente apropriados, o que impossibilita o estabelecimento de trocas entre indivíduos sem que todos os proprietários coletivos estejam de acordo; por isso que a única “saída” para os socialistas é planejar centralmente: na esfera de indivíduos, as relações econômicas estão engendradas e devem se basear em preços em desacordo aos desejos individuais e até mesmo contrários a eles – isso se ao menos existirem preços –, na tentativa de extirpar qualquer lucro existente. Um planejamento central (determinado grupo de políticos) não tem como prever todos os problemas do setor de produção, não tem como saber a necessidade de cada cliente, não podem simplesmente atrelar um valor a um determinado produto pois para cada ser humano o valor é subjetivo. O que é necessário para um cliente não é para outro. Não é possível controlar o valor da matéria prima, dos meios de produção e do produto final.
Nada pode ser estático. O conhecimento, o recurso, a economia…tudo sofre constante transformação ou mudança que são complexas e acontecem todos os dias. Trazendo esse mundo estático para uma empresa/fábrica os funcionários não envelheceriam e nunca se demitiriam e tampouco as máquinas envelheceriam ou ficariam obsoletas e nessa forma surreal bastariam algumas estatísticas e cálculos de distribuição e estaria tudo perfeito e vendido pois o produtor saberia aonde todos os seus recursos seriam alocados e saberia de todos os custos e dos métodos de produção. Mas no mundo real é diferente. Não é possível prever ou controlar a economia. A sociedade está sujeita a muitas coisas como crises, guerras ou pandemia por exemplo. O mercado equilibra-se sozinho. Sem o capitalista, não há mão-de-obra bem remunerada. Partindo do simples ou básico. De onde vêm os empreendimentos nos quais os trabalhadores são empregados? Como a fábrica ou a empresa foi construída? De onde vem o capital (as máquinas, ferramentas e equipamentos) das fábricas e empresas, com o qual os trabalhadores contratados realizam seu trabalho para produzir os bens que eventualmente serão comprados pelos consumidores? De onde vêm os recursos que garantem o pagamento dos salários dos trabalhadores? Alguém necessariamente teve de poupar uma parte dos rendimentos obtidos no passado para, então, utilizar esses recursos poupados na construção da empresa e com todos os bens de capital necessários para que os colaboradores realizem seu trabalho, capital que a todo momento se moderniza facilitando a produção, a operação, qualidade e segurança. Isso influi diretamente na qualidade de vida do trabalhador em seu meio social e profissional. Logo, sem o capitalista para financiar e sem o empreendedor para empreender, o trabalhador não teria à sua disposição as máquinas, as ferramentas e todos os bens de capital, nem sequer teria trabalho. Tem algo mais sério e inevitável.
A incontornável questão da preferência temporal.
E sobre a preferência temporal Juan Ramón Rallo ² é taxativo:”Eis a questão mais crucial de todas: os trabalhadores que os empreendedores e capitalistas empregam não precisam esperar até que os bens sejam produzidos e realmente vendidos para receberem seus salários. Os capitalistas adiantam bens presentes (salários) aos trabalhadores em troca de um lucro futuro (embora venha a estimar não existe a garantia certa de que irá receber). São muitas as pessoas que não entendem corretamente esse conceito de que os capitalistas adiantam bens presentes para receber, após muito tempo, bens futuros. Basta pesquisar balancetes das empresas. “Como disse Mises é um princípio básico da ação humana: o homem prefere o usufruto de um bem no presente ao usufruto desse mesmo bem no futuro. Esse é conceito da preferência temporal. Quanto maior a poupança, maior a disponibilidade de bens e menor os juros monetários. A quantidade de dinheiro poupada passa a ser um reflexo da abundância de bens. A oferta monetária, demanda por dinheiro, demanda por empréstimo, riscos, preferência temporal e outras variáveis determinam a formação dos juros do mercado.
Não só o estudo sob a impossibilidade do cálculo econômico como outros estudos e seus autores são “abafados” por políticos, intelectuais, acadêmicos e grande mídia para que a sociedade não obtenha tais conhecimentos para que possam entender que suas liberdades estão sendo extirpadas.
“A humanidade precisa, antes de tudo, se libertar da submissão a slogans absurdos e voltar a confiar na sensatez da razão.”
Ludwig Von Mises.
Yuri Maltsev foi pesquisador Sênior do Instituto de Economia da Academia de Ciências da URSS (1987-89) e Membro Sênior do Mises Institute
Juan Ramón Rallo é diretor do think tank libertário espanhol Instituto Juan de Mariana e autor de vários livros, como Los errores de la vieja Economía. Leciona em Madrid, no Centro Online de Estudos Superiores Manuel Ayau e no Mestrado em Economia Austríaca da Universidad Rey Juan Carlos
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