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São Paulo,19/09/2024

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Antonio de Paula Oliveira

Um Roteiro Fragmentado pelo Tempo

Congonhas: Patrimônio Cultural da Humanidade.


Um Roteiro Fragmentado pelo Tempo

Chegamos a Congonhas sob um sol aquecido por uma manhã de primavera. Já visitara a cidade várias vezes antes, sempre acompanhado de meu pai e de meu irmão Zitinho. Era uma peregrinação de fé que meu pai reverenciava ao Senhor do Bom Jesus de Matozinhos, o jubileu que acontece desde 1780, sempre no mês de setembro. O Jubileu religiosos de Congonhas é uma das festas religiosas mais antigas e grandiosas do Brasil. Agora desta vez, fora com um olhar jornalístico, apreciador da cultura religiosa e de toda obra do mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 

Quando alcançamos o adro que circunda o Santuário Do Senhor do Bom Jesus do Matozinhos, observamos com admiração a pavimentação com grandes pedras-sabão, meticulosamente entalhadas e dispostas de maneira uniforme, criando um padrão harmonioso que realça a imponência do espaço sagrado.  Tivemos a sensação de termos pisados em um pedaço do Céu.

O Santuário, majestoso e imponente, com uma gigantesca porta de madeira ao centro, ornada com portais feitos em pedra sabão, erguia-se ao alto da colina, desafiando o tempo e o espaço com a sua arquitetura barroca. Lá do alto, o olhar atravessa as altíssimas palmeiras imperiais e se perde em uma vista panorâmica por toda a cidade até se encostar nas serras que circundam ao longe. 

Antes de apreciar a grandeza dos profetas, o maior estatuário do mundo, esculpidos por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho que, como sentinelas de um passado na gloria da história, nos observam com uma seriedade acolhedora e apreciável. Cada entalhe na pedra-sabão guarda um segredo que o mestre quis se expressar na sua principal obra, que são os doze profetas. É naquela atmosfera carregada de espiritualidade que podemos mergulhar na história e na beleza arquitetônica do Santuário e todo o casario bem preservado.  

Encontrei com o historiador Guilherme Fontainha, em sua sala bem em frente ao largo do Santuário, que gentilmente me concedeu uma longa entrevista. Fiz uma viagem pela história através do conhecimento de Fontainha. Ele ainda me encaminhou ao historiador André Sanches Candreva, que não se encontrava naquele dia, mas que posteriormente me falou ao telefone sobre a decisão de esculpir os doze profetas e não os doze apóstolos. 

O português Feliciano Mendes, após uma grave enfermidade, foi curado pela fé em Bom Jesus do Motazinhos de Portugal. Ele construiu a Igreja de mesmo nome em Congonhas. Pediu a irmandade e os ermitões que seguissem com o projeto das obras. Vicente Freire de Andrade contratou o Escultor Antônio Francisco Lisboa para esculpir o estatuário e as sessenta e seis imagens das capelinhas da via sacra. Conforme nos relatou Guilherme Fontainha, a historiografia conta que a decisão pelos doze profetas foi de Aleijadinho, ele seguiu a ordem da bíblia para escolher os doze primeiros profetas. Também foi quem escolheu os versículos e mensagens em Latim das cartelas nas estátuas, auxiliado pelos ermitões. 

Soslaio o olhar para um passeio por toda a cidade, até encontrar a Matriz Nossa Senhora da Conceição, lá no meio ao casario. Congonhas é uma cidade que sabe conviver com o passado e o presente. Construções modernas, ruas movimentadas com carros e pessoas transitando entre o moderno e o histórico de maneira harmoniosa. 

 Fomos ao museu que fica pertinho do Santuário, um prédio moderno com linhas contemporânea e angulares. O Museu do Tempo oferece exposições virtuais, logo na entrada, o visitante caminha ao lado de um painel onde figuram imagens de pessoas que fizeram e fazem a história de Congonhas. Os sons dos passos e as imagens dos romeiros permitem aos visitantes mergulhar entre o passado e o presente da cultura da cidade. Telas interativas apresentam obras e histórias retratadas com legendas, facilitando o conhecimento. 

 Um dos momentos mais instigantes da visitação ao museu, é quando descemos ao subsolo para participarmos do filme Realidade Virtual, são quinze minutos quando podemos nos movimentar e interagir com o mestre Aleijadinho e até mesmo esculpir um dos profetas, enquanto o mestre vai nos orientando no ofício. Quando se vira o olhar, bem próximo está o Aleijadinho com sua expressividade acentuada para iniciar os trabalhos, pode se embrenhar em uma arte que nos leva ao século XVIII na oficina de Antônio Francisco Lisboa. Entre a batida do cinzel e do martelo, ainda se tem tempo para ouvir o mestre contar sobre a sua vida, seus trabalhos e sobre as injustiças que ele martiriza pela falta de reconhecimento da sociedade à sua obra, por conta de ser um homem negro.   

Deixamos Congonha no final da tarde, quando o sol declinava no poente, aproximando da montanha. Contemplamos toda beleza dos monumentos, da grandiosa obra de Aleijadinho, mergulhamos na história cultural e espiritual que a cidade oferece. Produzimos um rico material sobre a cidade e seu valioso acervo cultural para um documentário para o canal no Youtube chamado “Um dia como Guerreiro”.                                                                                                                                                                                                                                                                                                      Levamos na memória um sentimento carregado de história, conhecimentos e toda a contemplação de um dia inesquecível.                      



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