Seja bem-vindo
São Paulo,19/09/2024

  • A +
  • A -

Carlos Valentim

O legado do "Pai dos pobres"

Vargas expressa sentimentos de traição, desgaste emocional e físico. Sua decisão é apresentada como uma “escolha inevitável”.

imagem arquivo
O legado do Presidente Getúlio Vargas


Em 2024 comemoraram-se no Brasil os 70 anos do suicídiodo presidente Getúlio Vargas – evidentemente ‘comemorar’ não tem aqui o sentidode ‘celebrar’, e sim de ‘trazer de volta à lembrança’. O interesse e amobilização provocados pela data se expressaram em uma grande variedade deeventos, como seminários, exposições, debates, construção de memoriais, artigosem revistas especializadas, cadernos especiais nos jornais, programas detelevisão, rádio etc. Não era a primeira vez que isso acontecia. Na verdade,desde 1954 se pode constatar uma recorrência de eventos relacionados à memóriade Vargas. Uma palavra sobre o personagem se faz necessária, antes que passemosa refletir sobre essa memória. Getúlio Vargas é um personagem ímpar na históriado Brasil. Nascido na cidade de São Borja, no estado do Rio Grande do Sul,situado no extremo sul do país, foi deputado, ministro da Fazenda e presidentede seu estado antes de concorrer à presidência da República em 1930, comocandidato de oposição. Derrotado nas eleições liderou o movimentorevolucionário deflagrado em três de outubro daquele ano, que acabou vitoriosoe o levou à chefia do governo provisório do país. Quatro anos depois, foieleito indiretamente presidente constitucional. Em 1937, fechou u o Congresso eimplantou uma ditadura que foi chamada de Estado Novo. No período ditatorial –que coincidiu em parte com os regimes de Hitler, Mussolini, Franco e Salazar –,deu continuidade à estruturação de um Estado nacionalista e intervencionista.Tornou-se extremamente popular, foi chamado de “pai dos pobres”, mas em outubrode 1945, após 15 anos de governo, foi deposto. Ainda assim, meses depois foieleito senador e, ao declarar seu apoio ao candidato do Partido SocialDemocrático (PSD), general Eurico Dutra, contribuiu para a vitória deste naeleição presidencial. Voltou ao poder em 1950, agora eleito presidente na legendado Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e iniciou seu segundo governo Diantedo acirramento dos conflitos políticos e da possibilidade de ser mais uma vezdeposto, pôs fim à própria vida no dia 24 de agosto de 1954. Deixou uma cartatestamento à nação que causou grande comoção popular e, mesmo morto, foi ogrande eleitor no ano seguinte de Juscelino Kubitschek, eleito presidente com oapoio da aliança PSD-PTB. O fato de que desde 1954 a lembrança de Vargas tenhasido cultivada reforça a tese de que a memória tem sido uma das preocupaçõesculturais mais importantes das sociedades contemporâneas. Esse debruçar-seconstante sobre o passado recente conduz à produção de uma cultura da memóriaque se materializa de várias maneiras, entre elas as comemorações. Eventosdesse tipo, como vários estudos têm demonstrado, não são, porém inócuos:expressam estratégias de controle do passado para poder comandar o presente, enesse sentido são marcos de mutações sociais. Nas práticas comemorativas de 2024sem dúvida houve uma intenção de discutir o legado de Vargas. Afinal, a EraVargas, com seu projeto nacionalista tendo o Estado como eixo central,tornara-se uma matriz de referência nas discussões de uma agenda política eeconômica para o país. Mas que elementos foram agora ressaltados? A primeiraconstatação é que em 2024 as atenções se concentraram no segundo governo(1951-1954). Foi uma época de crescimento econômico, de implantação de política,com forte oposição da UDN (União Democrática Nacional).

Indústrias que estimularam a ampliação do mercado detrabalho, o que possibilitou maior inclusão social, tudo isso dentro davigência de normas democráticas. Nos dias de hoje, é compreensível que essecenário provoque nostalgia naqueles que voltam o olhar para a década de 1950.Integrar o pleno funcionamento da democracia com a retomada do crescimentoeconômico e a diminuição das desigualdades sociais é o grande desafio colocadopela atualidade. Nota-se, assim, uma avaliação positiva nas falas veiculadassobre Vargas, ficando em plano secundário as vozes que denunciam o legadoautoritário e a história de repressão política de seu primeiro governo. Nemsempre, porém, este foi o tom das comemorações realizadas em torno de Vargas.Nos 50 anos que se seguiram à sua morte, tampouco o país continuou o mesmo: àexperiência democrática iniciada em 1946, sucederam-se, a partir de 1964, 20anos de ditadura militar, até que em 1985 se iniciasse novo processo deconstrução da democracia.

Carta de Getúlio Vargas ao povo brasileiro:

A Carta-testamento deGetúlio Vargas é um documento endereçado ao povo brasileiro escrito por GetúlioVargas horas antes de seu suicídio, na data de 24 de agosto de 1954. ADocumentada na Praça Getúlio Vargas, em Santa Cruz do Sul, no Estado brasileirodo Rio Grande do Sul.

"Mais umavez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente sedesencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, enão me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minhaação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi o povo eprincipalmente os humildes. Sigo o destino que me éimposto”.

Vargas expressa sentimentos de traição, desgaste emocional efísico. Sua decisão é apresentada como uma “escolha inevitável”.



COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.