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São Paulo,03/12/2024

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Diogo Francisco Simas

Cheire tudo antes de comer

O Mestre se levantou. Olhou para seus discípulos. Não sorriu.


Cheire tudo antes de comer

O Mestre se levantou. Olhou para seus discípulos. Não sorriu.

— Guardem no coração o que lhes contarei.

— Há muito tempo:

— Eu quero a puta mais gostosa da casa!

A mulher sorriu.

— Sou eu.

— Você não, seu pedacinho de carne!

— Eu fui corno! Eu quero uma puta para bater!

A mulher sorriu.

— Eu sei o que você procura.

Ele a olhou. Seus olhos vermelhos, seu rosto vermelho, suas sobrancelhas apontavam ainda mais para o chão.

Ele passou a mão pela boca tirando as babas secas dos seus cantos.

— É isso.

Ele vestia as calças. Olhou para ela.

— Qual o seu nome?

— Por que você quer saber?

— Porque eu estou pagando.

Ela o olhou sem sorrir:

— Julieta.

— Você é uma bela de uma vagabunda, Julieta.

— Vocês mulheres são todas iguais, umas vagabundas.

— Até você que é mãe!

— Por que você pensa que eu sou mãe?

— Eu vi a cicatriz da sua cesariana.

Ela sorriu.

— Essa cicatriz é por outro motivo.

Ele arregalou os olhos.

Ela olhou em seus olhos:

— E até o ano passado eu me chamava Romeu.

O Mestre olhou para seus discípulos.

— Quando sentirem raiva, fechem a boca, abram os olhos e, se não enxergarem, façam como os cegos...

— ... cheirem tudo antes de comer.



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